Publicado: Sábado, 13 de dezembro de 2008
Natal Sustentável
Não tenho o hábito de assistir TV. Mas esses dias tive essa (des)oportunidade. Fiquei impressionada com a enxurrada de comerciais de Natal. Todos diziam apenas uma coisa repetidamente e das formas mais criativas possíveis: compre, compre, compre.
De repente me vi assistindo tudo aquilo com olhos de criança ou estrangeira, sem que o hábito catatônico entrasse no meu sangue, emoção ou pensamento. Comecei a achar tudo uma grande matrix.
Em plena era de preocupação com o planeta terra, quando ações sustentáveis são estimuladas em campanhas institucionais como uma nova grife pop, o estímulo ao consumo permance firme e forte. Se não for isso, como nossa sociedade permanecerá de pé?
Nós, por outro lado, somos meros marionetes da mídia, agindo mecanicamente e vivendo de acordo com valores que nem mesmo temos certeza se cabem em nós. Quem ama dá presente. Família feliz anda em carro novo e bonito, ou compra roupa, brinquedo, maquiagem, vinho, casa, móvel, geladeira, televisão, celular ou qualquer outra regalia da moda.
Traduzindo essa parafernália: para ter um Natal feliz é preciso gastar muito e gostar pouco. Esquecemos que gostar é muito mais importante do que gastar. Ensinamos às crianças e a nós mesmos – crianças crescidas – que Natal sem presente de loja é pobre e triste. E assim seguimos, ano após ano, como um rebanho desavisado. Os meses são pautados em cima desse “grande amor” e de outras invenções, como o dia das mães, dia dos namorados, dia dos pais, páscoa, dia das crianças e aniversário. Os presentes se acumulam, os armários transbordam, o gosto se enche e novos lançamentos seduzem diariamente. No fundo sabemos que plumas e paetês não garantem nenhuma felicidade. E daí?
Dar e receber presentes é uma delícia quando escolhemos fazer isso e não por falta de opção. Na maioria das vezes, compramos compulsivamente porque as pessoas esperam isso de nós e não sabemos dizer não.
É possível ir contra a correnteza e experimentar outros formatos. Dar presentes criados, em vez de comprados. Escrever, desenhar, esculpir, fotografar, musicar, cozinhar, dançar, pintar o amor que mora em nós de forma única, nossa, sem embalagens. Podemos também fazer clubes de troca, reciclando brinquedos, livros, gibis, roupas, enfeites e DVDs. Podemos aprender a desapegar de objetos e doá-los com todo o amor para alguém que gostamos. Podemos muito se aprendermos a desaprender.
Um Natal Sustentável pressupõe consciência e escolha. Agir, em vez de reagir. Decidir, em vez de sucumbir. Ousar, em vez de copiar. O desafio é tão simples como um sorriso, tão difícil como dizer eu te amo e tão poderoso como um abraço verdadeiro. Será possível um dia?
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