Nem tudo é descartável
Estamos aderindo em massa ao descartável como solução para uma vida moderna onde o tempo está comprometido e a correria é comum. Aproveitam-se disso as indústrias e o comércio para os quais o consumo, altamente favorecido pelas trocas, é a razão do sucesso. Isso garante ainda um barateamento dos produtos que se tornam acessíveis às camadas mais pobres. Seria até bom, não fosse a tendência do homem aos exageros, à falta de bom senso e ao mau uso das modernidades, com resultados ameaçadores, principalmente em relação ao próprio futuro do planeta.
Assim, o que parece ser a solução, torna-se “uma pedra no sapato”; afinal, nem tudo que é mais fácil, mais prático é sempre bom. Temos a obrigação de pensar de modo maior, mais abrangente. É melhor para mim, mas será para os outros, será sempre melhor, e o meio ambiente, o planeta? Já estamos sentindo as consequências: aumento da poluição, alterações climáticas, agressão aos rios, falta de espaços adequados ao excesso de lixo, uso descontrolado das árvores, embalagens descartadas em volume cada dia maior...
Precisamos repensar nosso modo de vida. Acabamos comprando a ideia de que lavar copos, consertar objetos, utensílios, aparelhos... não compensa. Tudo isso é corroborado pelas facilidades de aquisição de coisas novas. Resultado: lixos de toda espécie se amontoam ao nosso redor. Incomodam, preocupam, mas fechamos os olhos e vamos em frente.
O uso racional, o reaproveitamento, a reciclagem são os caminhos que podem evitar o propagado desastre ecológico e o comprometimento da vida humana.
Vamos repetir: nem tudo é descartável, nem tudo precisa ser descartado. Muita coisa pode ser conservada, consertada, reformada... Fazer as coisas durarem depende de cada um.
O pior é que essa mentalidade invadiu outros aspectos da vida, tais como emoções, sentimentos, afeições, afetos...
Tudo passou a ser descartável, desprezado: a estabilidade, a fidelidade, a paciência, a reparação, o perdão, as novas oportunidades... Não deu certo, estou fora...; não aguento mais, vou embora...
Troca-se de empregos, de cursos, de vocação, trocam-se os gostos, os hábitos... depende só da oferta.
Troca-se de namorado como se troca de roupa, descarta-se a possibilidade de várias tentativas, da insistência, do cuidado, da paciência, da perseverança... Dedica-se pouco tempo ao conhecimento, ao entendimento.
As separações conjugais viraram rotina, quase moda; esqueceram que as relações podem e devem durar e que sua solidez está calcada na dedicação, no empenho de cada um...
Como não há compromisso com a durabilidade, como a liberdade de sentimentos e afetos é exaltada e as ofertas de novas situações e oportunidades seduzem, difícil resistir e não trocar. Afinal, como nos bens materiais, descontente com o velho, melhor partir para um novo...
A sociedade, os especialistas, a mídia, falam muito das separações, a cada dia tratam isso como coisa da época (realidade dos tempos!!??) com uma normalidade surpreendente que nos assusta, com a falsa ideia da facilidade em encarar a situação. Expõem mil saídas confortantes para amenizar os efeitos danosos da separação, para os esposos e, muito mais para os filhos; em contrapartida, pouco se investe: primeiro, na valorização de uma união conjugal e na necessária preparação da mesma, na educação dos jovens para sua duração; em segundo lugar, na necessidade de uma manutenção adequada para que a relação consiga crescer e amadurecer.
Finalmente, falta conscientização de que, diante de situações de crise, todas as possibilidades e tentativas devem ser invocadas para salvar a relação e que, se é utopia um casamento fácil e sem problemas, é perfeitamente possível sua recuperação, sua revisão, seu acerto. Se é verdade que um dia chegaram a se amar, é possível manter esse amor e, se ainda não chegaram a se amar, é possível começar – na pior das hipóteses há uma história em comum que pode e deve continuar. São pouco divulgadas as histórias de casais que viram seu casamento balançar, mas que, com compromisso, garra e esforço, conseguiram salvá-lo. Sempre será doloroso e difícil enfrentar essa situação, mas certamente vai valer a pena.
A parábola do filho pródigo, que virou a cabeça, pôs-se em aventuras, arrependeu-se, voltou e retomou seu verdadeiro caminho, é sobretudo, um alerta, mas também um encorajamento àqueles que, iludidos, acabaram seguindo as ofertas do mundo. Sempre é tempo... não é covardia ou fraqueza se arrepender... muito menos pedir perdão... refazer... Covardia é não reconhecer os erros e persistir neles; covardia é não dar oportunidades ao arrependimento e à reconciliação... Covardia é pensar só em si e fazer pouco do outro...