No meu tempo...
Nada mais redundante do que ouvir dos idosos, essa espécie de lamúria e saudosismo, para acentuar o quanto diferem hoje as ações e o modo de vida dos de outrora.
- Ah, no meu tempo, o leite e o pão eu recolhia na porta de casa ...
- Sumiram as cadeiras nas calçadas, fim de tarde, a vizinhança a comentar sobre tudo e sobre todos, na mais inocente das confabulações ...
Sim, entende-se, essas e outras falas queixosas e de saudade; de fato procedem.
A jovens de hoje e outros quem sabe, tudo há de soar estranho e chato demais.
Vire-se a cortina.
Dissipe-se a bruma do passado.
Seja aberto, fulgurantemente, o cenário das maravilhas, mil e uma, dos dias atuais.
Olhe, olhe, que daqui a pouco se chega à lua, através de conduto rotineiro e passagem cara, mas só no começo. Ah, se vem. Vem sim.
Antes, contudo, de nos despacharmos rumo ao desconhecido, olhemos todos ao redor de nós mesmos.
De que adianta a volúpia da técnica, a dos “droners” moderníssimos, mas desde já classificados como perfeitos invasores de presídios?
Seria possível sonhar?
Deixarem-se vocês, amáveis leitores, para que soltem a imaginação.
Vamos brincar de amizade, interesse e aproximação das pessoas, sem discriminação, pobres e ricas, altas e baixas, homens e mulheres, desembaraçados e tímidos? Claro que não há referência, nesta sugestão, do encontro sadio que já se vê tanto por aí. Não. Mantenham-se se tais e se multipliquem.
Por exemplo, - que sonho! - aos domingos de manhã no Jardim do Carmo, você e os seus, nós todos para dizer melhor, nos postarmos naquele vazio central, no lado contrário ao do chafariz. Ali, uns e outros, outros e um, se anunciarem mutuamente para demonstrar afeição, sem distinção de classe.
Toma-se, é sabido, tal convite como de inimaginável e ingênuo, mas não. O ser humano se fechou, nem tanto para si ou por vontade própria, mas levado por falta de tempo. Muito do inócuo, da inclinação de imitar-se tudo sem avaliação prévia, enchendo-se com isso de encargos mil. Mais do que hora de todos verificarem onde consomem seu tempo livre ou obrigatório.
No tempo livre, com facilidade se consertam os equívocos. Nos obrigatórios, cabe sempre uma revisão e exame, para não acontecer de se estar vinculado a algo nem tão imprescindível,
Em suma.
Seria como sentar-se, hora dessas, para reflexões mais profundas e corajosas, para ver como anda o seu precioso “eu”.
Há de presidir, sempre, o “nós” sobre o “eu”. Este – conceda-se – tem sim seu sentido, sua importância, seu valor merecedor de respeito. Pode, contudo, necessitar de uma revisão periódica.
Enfim, falavam bem os romanos: “De gustibus et colloribus non disputantur”. Sobre gostos e cores não se discute.
Fiquem à vontade.
Bom dia. Boa semana.