Nosso lixo de cada dia
O lixo é, sem dúvida, um dos grandes e graves problemas dos aglomerados urbanos. E é cada dia maior, fruto dos novos hábitos, das necessidades de “facilitar” a vida complexa das cidades, a desmotivação pela recuperação ou reaproveitamento das coisas e até dos alimentos.
Crescem a ânsia e a facilidade de consumir, aliados ao crescimento econômico e ao aumento do poder aquisitivo; cresce a fartura e o desperdício. Tudo isso gera lixo cada vez maior.
Numa análise abrangente, podemos imaginar o mundo com duas grandes áreas: uma rural, natural, e outra urbana, artificialmente construída. O ser humano depende da energia vital fornecida pelos alimentos. Os centros urbanos são os consumidores e a parte rural o grande produtor. A cidade torna-se parasita da zona rural, já que consome freneticamente, produz uma quantidade cada dia maior de “resíduos” e os descarta irresponsavelmente ao “hospedeiro”.
Afloram movimentos, preocupações, estudos, previsões, ameaças bem documentadas por pesquisas, reuniões, mas pouca coisa de concreto se verifica. E o lixo vai bem... bem mal educado, bem mal cuidado e engorda sem cessar...
E agora temos um novo ingrediente, o lixo eletrônico, com seus desperdícios e perigos.
Poluição, efeito estufa, ameaçam o clima e a vida do planeta, mas nada parece sensibilizar seus habitantes.
O recente episódio das sacolinhas encheu a mídia de discussões e polêmicas, mas ainda aguarda uma solução que parece dormir na acomodação e na guerra de interesses.
A coleta seletiva do lixo igualmente patina. Levada a sério pelo povo e pelos órgãos competentes, seria uma solução, mas temos de concordar com a ofensiva afirmação de que “não somos um país sério”. Fazemos tudo “mais ou menos”. Basta olhar para as caçambas, meros depósitos de materiais diversos; até as do Bairro Brasil, de duas cores distintas, estão mal aproveitadas, conforme escreve uma leitora e moradora desse bairro (Jornal “A Federação” - ed. 5530 – 22/07/2011- pág. 2): “PENA QUE A "COLETA" NÃO ESTEJA SENDO SELETIVA!!! Mistura-se tudo num mesmo caminhão: lixo orgânico com reciclável.”
Realmente lamentável!
O ‘separação das caçambas’ é um excelente projeto que não pode ser relaxado ou desprezado; ao contrário, precisa ser repensado por todos e cuidado para que funcione a contento. E, revisto, deveria ser estendido a outras áreas do município
Isso se repete nas caçambas para entulhos das construções (uma ótima ideia, sem dúvida, mas mal aproveitada) onde se vê tanta coisa reciclável destinada aos aterros.
Não podemos desanimar, as soluções não virão do alto, mas devem sair da humanidade que, ao final, paga essa conta.
Precisamos examinar e rever nossas condutas, questionar e cobrar soluções. Seria, pois, o caso de perguntarmos a quem de direito: O que está sendo feito com os lixos possivelmente contaminados? Qual o compromisso assumido pela empresa que coleta o lixo orgânico? Que entendimento há entre esta e a coleta de recicláveis? Que tratamento está sendo dado ao lixo do centro da cidade depositado nas caçambas? Que ações ou campanhas estão sendo pensadas para uma grande conscientização da população? O lixo faz parte efetiva das preocupações dos órgãos ligados à saúde e ao meio ambiente?
Não seria uma solução implantar a trituração obrigatória do lixo orgânico tendo como destino o esgoto, descartando-se para coleta apenas aquilo que seria reciclável?
Vemos claramente que aquilo que dá lucro é sempre bem cuidado. Será essa a explicação para o caso do lixo?
Mais uma vez deparamo-nos com uma das grandes feridas sociais: a falta de educação que se soma ao descaso cada dia maior no trato do bem comum.
É urgente uma tomada de consciência por parte do povo, das autoridades, das entidades representativas, dos setores produtivos, dos poderes políticos e econômicos para que se deem as mãos e olhem para a mesma direção; só assim teremos soluções rápidas, eficientes e duradouras.
Sem dúvida, muita coisa está sendo feita, mas depende de uma cadeia de procedimentos, uma ação conjunta e muito bem coordenada, para que chegue a um final satisfatório. É preciso cuidar de cada etapa, mas sobretudo da continuidade do processo.
Afinal, somos hóspedes deste mundo criado para nosso bem-estar, mas estamos agindo como “parasitas” irresponsáveis. Será que estamos esquecendo que a destruição do hospedeiro representa igualmente o fim do parasita?