Colunistas

Publicado: Quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O Auto da Casa de Paulo

Ao fim de mais uma jornada de trabalho, o pai de Saulo chega em casa e logo cumprimenta sua esposa:
 
- Querida, cheguei! O comércio hoje estava uma beleza! Mas que cansaço! Atendi mais de vinte caravanas hoje...
 
- Não reclame, querido... Melhor trabalho demais do que de menos.
 
- E o teu filho? Mandou notícias?
 
- Nosso filho, não é? Bom... Nada hoje também. Não vejo a hora em que ele retorne...
 
- Essa história de ficar perseguindo cristãos pode ser muito boa para os nossos rabinos, mas é péssimo para os meus negócios... Afinal, ainda sou eu quem sustenta esse moleque...
 
- Não fale assim, meu bem. Saulo já é bem grandinho e você sabe que ele está empenhado nessa tarefa. Os rabinos vivem pedindo-lhe favores e viagens.
 
- Eu sei, eu sei... Só penso que ele deveria fazer algo mais na vida, tentar uma carreira qualquer, sei lá... 
 
De repente chega Saulo. Para nós é Paulo, mas seus pais ainda não sabem: 
 
- Mãe! Pai! Voltei!
 
- Meu querido, que bom ter voltado! Já não via a hora!
 
- Tudo bem Saulo, como foram as perseguições aos cristãos?
 
- Mãe... Pai... Aconteceu uma coisa muito importante na minha vida. No caminho para Damasco, tive uma visão deslumbrante...
 
- Saulo, Saulo... Eu já falei para você parar de falar assim das moças que encontra por aí...
 
- Não é nada disso, pai! Eu tive uma visão... Terrível, mas reveladora... Inacreditável, mas muito real... Eu vi Jesus de Nazaré, o Filho de Deus!
 
- Meu filho, não mate a sua mãe! Blasfemando dentro da nossa casa?
 
- Não, mãe! É verdade! Eu juro que vi!
 
- Para com essas bobagens moleque! E que história é essa?
 
- Indo para Damasco, tive uma visão de Jesus. E ele pediu-me que parasse de perseguir seus discípulos, convidando-me a caminhar com seus discípulos! Agora tudo vejo, tudo entendo! Sei que Jesus é realmente o Filho do Deus Vivo, nosso Mestre e Senhor!
 
- Saulo! Pare já com isso! Você deve estar com alguma insolação, só pode ser! E que roupas são estas? Onde estão as tuas?
 
- Aquelas roupas eram muito caras... Vendi tudo para doar aos pobres. Estas são mais simples, porém tão confortáveis quanto aquelas... Ah! E agora eu não me chamo mais Saulo... A partir de agora podem me chamar de Paulo, discípulo de Jesus.
 
- Ai, ai, ai! Querida, vá procurar algum remédio lá na gaveta! Um pra ele e outro pra mim! Estou enfartando! O que o pessoal da sinagoga vai dizer? E no clube então, como vou ficar? Meu próprio filho se dizendo um cristão! Um pai não merece isso...
 
- Meu filho, você não pode estar levando isso a sério! Com certeza foi uma alucinação... Você comeu direitinho, dormiu no horário, passou friagem? Só pode estar doente!
 
- Estou bem, mãe! Nunca estive melhor em toda a minha vida! Aliás... Acho que a minha vida começou agora! Aquela vida que Saulo levava, não era digna desse nome... Agora já não sou eu quem vivo, mas é Cristo quem vive em mim!
 
- Foi pra isso que eu paguei as escolas mais caras do Império? Pra você virar um cristão? De nada valeu a educação que eu te dei? Anos e anos trabalhando no comércio, pensando que você iria tomar conta dos negócios um dia... E agora, o quê?
 
- Agora o meu negócio é espalhar a Boa Nova a todos, pai! Não posso ficar parado... Um comércio pode enfrentar crises, falir... Mas o Reino não perecerá nunca e é sobre ele que eu partirei falando às pessoas.
 
- Partirei? Como assim? Mal chegou! Não mate a sua mãe dizendo isso!
 
- É verdade, mãe! Só vim contar tudo, para que vocês se alegrem comigo! Nada levarei comigo, além do meu cajado e da minha bolsa... Nem sei ainda para onde vou, deixarei que o próprio Cristo me indique a direção... Quero falar da Boa Nova! E se o mundo tiver um ponto final, irei até falando de Cristo... E então voltarei para cá, e para lá de novo... Até que todos tenham conhecido o nome de Jesus! 
 
Atônitos, os pais ficam sem argumentos. Paulo dá um beijo e um abraço em cada, partindo em seguida. Nunca mais veria seus genitores, que refletiam sobre o acontecido.
  
- Ai, mulher... Por quê nosso filho foi dar-nos tanta tristeza!
 
- Não é pra tanto, querido... Ele pareceu tão animado! Nunca o tinha visto tão conv
Comentários