Publicado: Terça-feira, 20 de janeiro de 2009
O Bairro Alto da Boêmia
“Correi a ver em cena as putas grulhas
Do Bairro Alto a corja de pandilhas,
Os fadistas pingões e bigorrilhas,
Que de noite incomodam as patrulhas!”
Versos sem autor, mas que foram publicados em 1876, num cancioneiro do Bairro Alto. É uma espécie de manual de instruções para fadistas e marialvas que debitavam as rimas aos acordes da guitarra. Mas esta lá toda história daqueles quarteirões. A prostituição, criminalidade, fado, ruído.
O Bairro Alto, antigamente conhecido com Vila dos Andrades, é uma zona típica de Lisboa, com ruas estreitas e empedradas adjacentes às regiões do Carmo e do Chiado, com casas seculares, construído em plano octogonal em finais do século XVI.
Diz-se que o fator que caracteriza o Bairro é nunca se terem verificado grandes cortes ao nível social, sempre foi um bairro de classe remediada, de prostituição, de carvoarias, tabernas e boêmia.
Segundo Pedro costa, no seu livro “A Cultura em Lisboa”: O Chiado era o lugar onde se mostrava as virtudes de dia e o Bairro Alto onde se escondia os vícios da noite.
“Marujos, rameiras, fadistas, jornalistas (praticamente todos os jornais da capital se localizavam ali), e marialvas ocorriam às tabernórias do Bairro Alto, tão negras por fora como soturnas por dentro. Até altas horas havia, fado vadio, gritaria infernal, grandes pancadas sobre as mesas. Taberna tranquila, sem murros, sem gritos, era fraca taberna”.
Até os anos 80 foi assim, mas mudou-se o tipo de boêmia para um ambiente de conversa intelectual, onde as pessoas debatem idéias, onde se forma grande parte da cultura crítica do país. Este bairro, um dos mais intelectuais da capital, é frequentado e habitado por jornalistas, escritores e estudantes.
“ O Bairro Alto, desde há muito o coração da Lisboa boêmia, tornou-se subitamente um laboratório de mentalidades. Ah, como Pessoa e Almada haviam de gostar disto.”
Os moradores dizem que o bairro se renovou e há mais rostos bonitos do que antigamente.
Parte dos prédios foram ou estão a ser recuperados, mantendo-se a traça original dos mesmos, o que veio permitir a instalação de novos e alternativos espaços comerciais, encontrando-se desde lojas multimarca e ateliers a lojas de tatuagens e piercing. Há um comércio muito tradicional e ao mesmo tempo moderno nessa região, voltado para o turismo, para antiguidades, ou moda vintage.
Hoje o Bairro faz parte do turismo de Lisboa, onde encontramos inúmeros estrangeiros, onde nos encontramos para conversar em bares ecléticos, ou ao som de jazz, ou jantar num charmoso restaurante. O que me toca em querer falar sobre esse lugar é a relação que as pessoas têm com ele, ou gosta ou não se gosta, não há meio termo, e quem gosta é-lhe realmente fiel e habitué. É sim, um lugar de grande contraste social, onde oferecem-nos haxixe a cada esquina, mas é um ambiente em que dá vontade de estar nem que seja para analisar esses fatores diferencias e culturais, passar uma tarde bebendo chá, ou uma grande noite de bebedeiras. E filosofia, muita filosofia……
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