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Publicado: Segunda-feira, 11 de junho de 2007

O Buscapé

O negro velho continua conversando com as crianças:
- Buscapé era um escravo de dentro.
 
Escravo de dentro era mais importante do que escravo de senzala. Morava na casa grande, comia na cozinha de tudo o que era servido na sala e prestava pequenos serviços.
 
O feitor implicava com o Buscapé:
Que absurdo! Um negro moço e forte como esse, que podia dar um bom rendimento no eito, ficar ai, só arreando cavalos, engraxando sapatos, pilando arroz e vagabundeando a maior parte do tempo!
 
Mas o Coronel queria assim e quem mandava era ele.
O Sinhô não admitia que se castigasse escravos. Nem tronco havia na fazenda.
 
Muitas vezes chamava a atenção do feitor por maltratar os negros, e o feitor saía resmungando:
- O coronel é muito mole! Qualquer hora essa negrada se levanta, bota ele pra correr e fica com a fazenda.
 
Mas, isso nunca aconteceu.
O coronel não era mole coisa nenhuma. Se um escravo começava a dar trabalho ele o punha a venda.
 
Os escravos tinham mais medo de serem vendidos do que de apanhar, pois, contavam-se barbaridades que eram praticadas contra os negros em outras fazendas.
 
Eles não sabiam se era verdade, mas ninguém queria tirar a prova.
O tempo passou, veio a abolição e o Buscapé continuou na fazenda com o Coronel Mesquita, depois com seu filho e seu neto.
 
Hoje é um velho imprestável que só serve para rezar e contar histórias para uma criançada amolante.
 
As crianças gritaram a uma voz:
- Buscapé! Você é o Buscapé!
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