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Publicado: Terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O cardigã

Crédito: Escultura de Daniel Arsham O cardigã

A caneca ainda tinha uísque de ontem e, honestamente, não lembrava quando parou de usar o copo certo para cada bebida. O rádio continuava mal sintonizado e o cardigã de Sophia era observado, pela fresta da porta da cozinha, esquecido no encosto da cadeira na sala de jantar. Os gritos ainda ecoavam tão fortes em sua cabeça que quase pôde sentir os dedos dela apertando seu pescoço, depois lhe abraçando e, de súbito, empurrando-lhe forte o suficiente para quebrar a porta de vidro no armário da cozinha. Saiu correndo, transtornada, e deixou metade de si para trás. Aquele cenário ficou intacto, inclusive com os cacos de vidro ainda no chão. Ele se desdobrara todo para viver até ali sem coagular suas memórias preservadas há mais de seis meses. Porém, naquela manhã decidira encontrar seus novos caminhos, então juntou documentos e, exatamente enquanto abria o portão para enfrentar o sol das calçadas, Sophia esticava o braço para tocar a campainha. Juntaram os cacos e colocaram fogo no cardigã.

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