O Carmo, os Carmelitas, o Povo
Sei não em quantas oportunidades nas crônicas, ao longo de 55 anos de imprensa inteirados neste 2012, muito especialmente no jornal “A Federação” mais do que em qualquer outro, terei feito referências, alusão e artigos inteiros a respeito do Carmo.
Essa ligação é quase umbilical e a prova disso já dei ali mais vezes.
Vamos todos, leitores e este despretensioso articulista, a mais recordações, todas elas infinitamente gratas.
Carmo, que se diga de modo generalizado, a incluir desde os frades, convento, seminário, igreja propriamente dita, Liga Católica, Irmandade de Santa Teresinha, Ordem Terceira, o cineminha das segundas feiras com o Frei Clemente como caixa, preço da entrada quase simbólico.
Não seja olvidado o campo de futebol, com grama rala e somente nas laterais, o time do seminário a jogar contra a Congregação Mariana, o Onze Piratas do Mão de Onça ou o Bandeirantes do Luizinho D’Elboux, sob o prestígio de um público considerável.
Comecemos do começo, expressão redundante e de propósito.
De 1944 a 1956 ou 57, por aí – pois assisti da janela do sobradão a chegada dos expedicionários a subir garbosos a Barão do Itaim, em 1945, - fiz-me consequente e naturalmente muito ligado ao Carmo. Morador nessa rua, só saiu dali a minha família ao ser o imóvel alienado para construção da nova Prefeitura, hoje Casa do Barão.
Primeira Comunhão, no Carmo, dona Maria Bordini e outra senhora cujo nome a memória não me traz agora, as catequistas.
Os frades de então, eram muitos e de nacionalidade predominante holandesa, sempre cerca de uma dezena deles, no final da tarde e após o jantar, percorriam toda a calçada desde a Igreja até os Correios.
Entra aí a atuação do inspirado Frei Osvaldo Hedeman, fundador da Associação Escoteira de Nossa Senhora do Carmo.
Faz tempo gente, de quando a missa era rezada em latim, o celebrante de costas para o povo. Essa saudoso padre entusiasmou dezenas de meninos e rapazes e todos eles, alguns infelizmente já na casa do Senhor, hão de comentar a bravura de como todos os escoteiros se alinhavam, orgulhosos, a cumprir os seus deveres, a boa ação diária em especial. Dos acampamentos, barracas cedidas pelo Quartel, à beira de um córrego no bairro do Jacu, com a ordem e disciplina que os moldaram para a vida, guarda-se deles a melhor das lembranças. Levantar às seis, banho na água gelada, saudação à bandeira, refeições a cargo do popular e amigo Xexa. Assim era esse pessoal, carinhosamente chamado pelo povo como ”os escoteiros do Frei Osvaldo”.
Frei Osvaldo em mais de uma oportunidade, a observar os seus pupilos, acabou por despertar neles uma possível vocação religiosa. Levou então ao Seminário do Carmo (hoje Anglo), por primeiro o Walter Spinardi e Orivaldo Armênio (já falecidos). Ao depois, a mim, o Adelermo, irmão do Walter, e o Eurico Lelli, sobrinho do saudoso alfaite sr. Marcílio Lelli.
Transferido de Itu para Belo Horizonte, em 1951, chamou-me o Frei Osvaldo para lá ser submetido a uma cirurgia, comum na época, amigdalite. Corriam as férias de julho, durante a qual acabei por integrar um acampamento, eis que na capital mineira, logo que chegou, o Frei tratou de fundar outra associação. Deu-me a incumbência de ensinar aos mineiros, os toques de bumbo e tarolas usuais em Itu. Em pleno dia de semana, perfilado com os colegas mineiros, subimos toda a rua Grão Mogol, desde a avenida do Contorno até a Igreja do Carmo, algumas quadras dali. Foi um triunfo, com direito a rojões, em pleno dia de semana.
Ao deixar o seminário, já congregado mariano, passei a integrar a equipe da Igreja do Carmo, ela entregue na época ao Frei Eduardo, que mais tarde se desligou da Ordem.
Como não poderia deixar de ser, casamo-nos, a Flávia e eu, na Igreja do Carmo, em 1962, o Frei Eduardo como celebrante. Nas bodas de prata, Frei Martinho Cortez, também ele de convivência dos tempos do seminário, tivemo-lo como celebrante da respectiva missa, inclusive lá na mesma Capela interna.
A prosa de hoje vai assim bem descontraída e sem mais cuidados, solta, para comprovar que o manto marrom da Virgem do Carmo, realmente e de verdade, sempre cobriu meus passos da infância até a data de hoje.
Pontificam atualmente no Carmo os amigos, Frei Felisberto e Frei Clóvis, colegas de Seminário.
A história da cidade de Itu, sabem todos, está intimamente vinculada ao Carmelo.
Privilegiadamente vinculada.
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