O colecionador de segredos
O primeiro, capturado com muita cautela em um crepúsculo no jardim francês da condessa enquanto a criadagem preparava os festejos natalinos, permanece ainda intacto; o pobre homem, vítima da libidinosa nobreza de sua senhora, já nem frequenta mais a nobreza, levado às pressas para as minas. Os outros vieram naturalmente, sempre submersos em cuidadosas respirações e odes ao soturno silêncio dos castelos. Muitas vezes, tal qual aquele passeio junto ao caminho cipreste, as coisas aconteciam quando sequer estava preparado para caçar, com a presa se desfalecendo em sua frente, desvelada como para ninguém antes. Foi assim com o seu maior segredo. O enredo que lhe apetecia, por sua vez, exigia uma arquitetura bélica para ser violado e, não raramente, decepcionava. Velho, não havia uma só pessoa naquelas cercanias que não fizesse parte de sua coleção de segredos. Foi à taberna pela primeira vez, ontem, desiludido com o amor de uma messalina. Hoje foi enterrado vivo. Agora sua boca é um túmulo.