O dia da vovó Idalina
Idalina nunca tivera qualquer comemoração nas datas especiais.
Quando criança, era muito pobre, a família grande e os pais não achavam importante comemorar aniversários ou quaisquer outras datas.
Casada, o marido achava que esses Dias Comemorativos eram uma invenção dos comerciantes, uma exploração, e nunca comemoraram nada.
Agora, viúva, com os filhos longe, morando só, ainda sentia certa tristeza nessas datas.
Um pouco da frustração da infância sem festas nem presentes acompanhou-a pela vida toda.
Dia dos namorados, das mães, das avós, tudo passou sempre em branco e agora, velhinha e só, ainda sentia falta de um carinho no Dia dos Avós.
Estava rememorando todas suas mágoas, dizendo a si mesma, sem se convencer, que isso era bobagem, quando bateram a sua porta.
Abriu e lá estava uma meninazinha que morava na vizinhança com uma folha de papel na mão.
- Dona Idalina, eu fiz um desenho na escola para dar à minha avó e como me lembrei de que a senhora não tem netos, fiz um para a senhora também.
Emocionada Idalina pegou o papel meio amassado onde havia um grande coração desenhado, meio torto e com letras inseguras a mensagem “Vovó! Você mora no meu coração”
- Posso dar-lhe um abraço?
E pela primeira vez na vida, aos oitenta anos, a Idalina teve a sua homenagem.