O diploma: para onde foi?
Ainda estava na faculdade e já havia a polêmica sobre a obrigatoriedade de diploma para o exercício da profissão de jornalista. Ou seja, a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) não me surpreendeu. Pelo país inteiro os ânimos se exaltaram. Esbravejaram contra e a favor da decisão fatal de que, a partir de agora, o diploma de Jornalismo não é mais obrigatório para exercer a profissão.
No mundo real, o que mudou? Nada. Nas redações, rádios e emissoras de televisão, jornalistas continuaram a trabalhar. Também continuaram a fazer seus freelances, suas assessorias de comunicação, seus projetos pessoais. Continuaram se virando, em condições ótimas ou precárias, para levar a notícia à opinião pública. Continuaram ganhando o piso salarial (ou nem isso), salvo raras exceções.
Lembro que na faculdade, nosso grande medo era ficar sem emprego caso o diploma não fosse mais obrigatório. E lembro também que um dos nossos professores nos deu uma dica valiosíssima: “Aproveitem a faculdade para aprender e se transformem em ótimos profissionais. Porque quem é bom no que faz jamais fica desempregado”. Naquela época eu achava que era uma opinião otimista demais, mas hoje sei que ele estava certo.
Depois da decisão do STF, recebi vários e-mails perguntando a minha opinião. Afinal, sou a favor ou contra a obrigatoriedade de diploma para jornalistas? Particularmente, acho que essa briga é de “cachorro grande”. Os maiores interessados são os sindicatos e as grandes empresas de comunicação. Mesmo assim, por menos que nos afete o cotidiano, não há como deixar de omitir opinião.
Não sei se o jornalista deve ou não ter diploma para atuar nos meios de comunicação. Mas sei de duas coisas imprescindíveis: amor e paciência. Quem não ama o universo jornalístico, jamais será um bom profissional da imprensa. Quem não tem paciência para suportar e vivenciar os bastidores reais da notícia, tampouco permanecerá nesse tipo de trabalho.
Discordo dos que dizem que o jornalista carrega em si um “dom” particular que o habilita naturalmente a trabalhar na área. É uma afirmação um tanto absolutista, quase mística. Concordo que algumas pessoas têm mesmo certa facilidade natural para se comunicar e assim atuar na mídia, mas isso é mais por causa de sua maneira de ser, do ambiente em que foi criado, da educação recebida durante a vida.
A facilidade por si mesma não habilita ninguém a atuar na área. Muitos têm facilidade para jogar futebol e nem por isso estão todos em times profissionais. Muitos são mestres em sua própria cozinha e nem por isso são chefs gastronômicos. Defendo que, mesmo sem ter diploma, qualquer pessoa com talento possa atuar em jornais e revistas, rádio, televisão e internet. Porém, para mim o diploma faz muita diferença.
Vou limitar-me à imprensa escrita. Para escrever bem, não basta saber redigir. Também não basta ter uma boa carga cultural. São necessárias técnicas. São necessárias teorias para colocar em prática. E isso tudo se aprende na faculdade, sobretudo nos primeiros semestres do curso de Comunicação Social. Cresce-se muito na sala-de-aula, no convívio com os colegas, na troca de experiências com os professores.
É certo que o diploma por si mesmo não vale muita coisa. Prova disso é que há muitos profissionais ruins com diploma enfeitando a parede do quarto. Entretanto, o diploma representa um período de formação, uma conquista, etapas que foram superadas no árduo processo de transformação de um estudante em um bom profissional. O diploma de Jornalismo pode não ser mais obrigatório, mas quem o possui certamente tem uma vantagem pessoal.
Se eu decidisse hoje pela carreira de jornalista, cursaria a faculdade de Comunicação Social do mesmo jeito. Infelizmente, em um país no qual até o Presidente da República aparentemente se orgulha de não ter curso superior, fica mais complicado explicar porque um diploma é tão importante. Mas se eu fosse contratar um jornalista para trabalhar comigo, escolheria um diplomado, com toda certeza.
O mundo continuará a girar. Gripes e guerras, acidentes aéreos, escândalos políticos, campeonatos de futebol, fofocas de celebridades, tudo estará diariamente na mídia graças a milhares de profissionais da imprensa escrita, falada e televisionada. Na grande confusão em busca das notícias mais frescas do dia, ninguém se lembrará de perguntar se os jornalistas são diplomados ou não. Até, é claro, que a polêmica se instale novamente.
Amém.
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