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Publicado: Terça-feira, 26 de julho de 2011

O drama da Eduarda

Sua infância foi marcada pela tristeza e pela discriminação. Nos seus documentos havia só o nome da mãe. “Pai desconhecido” era como uma pecha que a humilhava e dava aos colegas motivo de provocação, chamando-a zombeteiramente de nomes ofensivos.

Só depois de muita insistência a mãe contou-lhe o seu drama quando engravidou, foi abandonada pelo namorado e expulsa da casa pelos pais, numa época de muita repressão e muito preconceito.

▬ Ele se chama Gledson Martins do Carmo.

O resto Eduarda já sabia, pois vivia só com a mãe, participava de sua pobreza, sabia de suas dificuldades. Os parentes, se os tinha, nunca procuraram por elas.

Quando começou a interessar-se por rapazes, percebeu logo que estes a desrespeitavam como se ela tivesse culpa do erro de seus pais, como se fosse seguir o exemplo da mãe.

O primeiro namorado não sabia de sua condição e quando ela, muito constrangida, contou-lhe tudo, ele, no primeiro momento pareceu muito compreensivo, disse que seu amor era maior do que qualquer preconceito, mas não procurou mais por ela.

Anos depois teve outro namorado por quem se apaixonou e que dizia corresponder o seu sentimento, passar por cima do preconceito, pois afinal os tempos eram outros e já então a falta do nome do pai não era mais tão importante.

Também esse acabou cedendo à pressão da família e abandonou-a muito magoada e desiludida.

Uma raiva surda começou a dominá-la, raiva do homem que não teve a coragem de assumir a paternidade, de lutar ao lado da mulher que dizia amar, de dar seu nome à filha.

O ódio foi crescendo dentro dela, ocupando todos os espaços de seu coração, todos seus pensamentos, tornando-se uma obsessão, impedindo-a de se interessar por algo que não fosse o seu desejo de vingança, e, então, só um objetivo passou a motivá-la, encontrar seu pai e matá-lo.

Quando descobriu que ele era o diretor de um cursinho pré-vestibular, não teve dúvidas, matriculou-se e começou a frequentar as aulas com o único objetivo de aproximar-se dele e, na primeira oportunidade fazê-lo beber o formicida que levava na bolsa.

Foi na festa de confraternização de fim de ano que a ocasião de concretizar seu plano sinistro se apresentou O professor tomaria o veneno que ela conseguira colocar em sua taça e sua vingança estaria consumada.

Mas assustou-a a perspectiva de vê-lo passar mal, morrer ali, ante os presentes impotentes para ajudá-lo, o rebuliço que causaria, depois a polícia, interrogatório, talvez condenação, cadeia... Como não pensara em nada disso? Como pudera imaginar que poderia eliminá-lo sem sofrer as consequências?

Apavorada viu-o levar a taça aos lábios e, antes que sorvesse o primeiro gole, precipitou-se sobre ele jogando a taça no chão e, rindo e chorando descontroladamente, contou para todos os presentes paralisados pela surpresa, sua história de sofrimento e rejeição.

Muito transtornado o conceituado mestre negou tudo, disse que Eduarda estava louca e em parte estava certo, pois ela foi internada em um manicômio onde passou o resto de seus dias.

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