Publicado: Quinta-feira, 22 de maio de 2008
O Homem Continua Só
O homem, essa maravilhosa criação divina, a obra prima do Universo, é uma individualidade que vive absolutamente só. Causa-nos estúpida admiração, portanto, que filósofos, sociólogos e assemelhados tenham construído teorias absurdas como o nazismo, fascismo e o comunismo avassalador - aceitas por multidões incalculáveis - o último somente estrebuchando, no final do século XX.
Só nos tranqüilizamos porque relembramos a informação bíblica de que o número de tolos é infinito (numerus stultorum est infinitus), complementado pela mística mensagem de que, “muitos são os chamados, poucos os escolhidos”.
Nas agitadas urbes e metrópoles contemporâneas, a nossa primeira impressão é de que o homem é um ser coletivo. Vive coletivamente, dependendo dos outros nos seus mínimos detalhes.
Tal dependência o socializa, em grau maior ou menor, a ponto de tornar-se simples autômato, requintado robô, que se arrebenta com as eventuais falhas da programação, inevitáveis face às permanentes ou inarredáveis crises da vida.
Mas, num determinado momento, se pararmos para pensar, refletir e meditar; se nesse precioso tempo nos deslocarmos para a solidão do campo, onde só a natureza existe, o céu azul, árvores, vegetação, a água de uma nascente, o canto dos pássaros e o chão que pisamos, é induvidoso concluir: estamos sós, absolutamente sós.
Nós, o mundo e Deus. Então sentimos a plena individualidade, a absoluta independência de todos e de tudo. Nesses momentos de solidão podemos compreender a maravilhosa importância da criação humana, obra de um Ser Superior que nos infundiu a centelha da imortalidade.
Não nos é possível, porém, nos deter no isolacionismo. Não podemos viver isolados o tempo todo. Outros indivíduos como nós, os semelhantes, os nossos irmãos, têm a mesma procedência, os mesmos ideais, igual destinação. Precisamos conviver em harmonia fraternal, mutuamente nos unindo e colaborando.
É a sociedade natural que, se prevalecesse sem desvios, evidentemente teria transformado a terra em paraíso. O homem, infelizmente, acariciando e não resistindo às profundas inclinações para o mal, tumultua a própria existência gerando os angustiosos e abundantes conflitos, fartamente conhecidos.
Todavia, não podemos desanimar. Reconduzidos à dignidade de Rei do Universo, reconfortados com as reflexões na solidão telúrica - real ou ficta - , batalharemos para multiplicar e frutificar os talentos recebidos, seguros de que, da unidade individual perfeita, surgirá a sociedade que sonhamos.
Revendo esta crônica escrita há mais de dez anos, achei por bem republicá-la, com ligeiras correções, pequena alteração no título e algumas linhas de acréscimo. Baixou-me intensa saudade, porque a solidão daquela época se manifestava mais esperançosa e poética.
Hoje a solidão que nos cerca é mais carregada de mazelas, acrescida da desesperança dos sonhos ainda não concretizados e da periculosidade do mundo, envolto cada vez mais em desatinos e violência. Todavia, não nos deixando abater, sacudindo a poeira que os transviados caminhos da modernidade emitem, confiamos que a centelha divina que carregamos nos permitirá, ainda, alcançar a Canaã prometida.
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