O Legado de Stan Lee
Foi-se o tempo em que as histórias em quadrinho (HQ) eram coisa para crianças. Hoje a indústria das comic books movimenta bilhões de dólares e atende um público de milhões de leitores, de todas as idades. Se tais coisas são assim, boa parte do mérito é de Stan Lee, recém falecido aos 95 anos. Na década de 1960 ele simplesmente elevou as HQ’s a um outro patamar, tanto no que se refere à concepção de personagens quanto à administração de verdadeiros ícones populares.
Lee foi criador ou co-criador de personagens conhecidos mundialmente. Como dono da Marvel, colocou-se também no papel de garoto propaganda da empresa. Ao contrário de sua concorrente DC Comics, a Marvel tem e continuará tendo um rosto, o de Stan. Muitos estão lamentando, por exemplo, o fato de ele não poder mais aparecer nos próximos filmes da Marvel. Porém, com o avanço da tecnologia atual, não me espantarei se Stan Lee continuar fazendo suas pontas através de efeitos especiais.
Um aspecto que diferencia a Marvel da concorrência é a tentativa de se aproximar mais da realidade dos leitores. Ao contrário de Gotham City ou Metrópolis, cidades fictícias da DC Comics, nos quadrinhos da Marvel as cidades existem mesmo e os cenários mais comuns são Nova York. Seus personagens são fantásticos, como devem ser os de qualquer HQ que se preze, porém é muito mais acentuado o caráter dramático de suas vidas.
Não é que os heróis da DC Comics não tenham dramas e problemas. Claro que têm. Mas Stan Lee conseguiu imprimir essa característica de forma mais profunda nos personagens da Marvel. Além de dilemas psicológicos, eles se preocupam com o trabalho e a fila do pão, o aluguel a pagar e as sempre complicadas relações familiares. Com a Marvel é muito mais fácil identificar-se com um Homem Aranha e seus desafios da juventude do que com o Batman da DC Comics e a vida do bilionário Bruce Wayne,
O dono da Marvel também conseguiu dar um passo rumo ao futuro, sendo o responsável por adaptar seu universo de personagens ao cinema e à televisão. Nos últimos anos dificilmente alguém não assistiu a algum filme ou seriado com seus heróis. E isso sem contar com todo o comércio derivado dos personagens, na forma de brinquedos e camisetas, canecas e objetos mil.
Um ponto preocupante é perceber, nas revistas e nos filmes da Marvel, uma certa tendência a aderir à pauta esquerdista e globalista, chegando mesmo a comprometer alguns personagens e a prejudicar as vendas. Bobagens como fazer um Homem Aranha negro ou um Thor mulher desagradaram a maioria dos leitores. Personagens criados para levantar bandeiras ideológicas tiveram que ser mortos, pois revelaram-se um fracasso mercadológico. Sorte que a Marvel tem muita bala na agulha e pode se dar ao luxo de cometer erros fantásticos também.
O universo das HQ’s deve muito a Stan Lee e os fãs certamente reconhecem seu legado. Seu nome será sempre lembrado, misturando-se com os de tantos personagens icônicos que lançou. Que ele descanse em paz e satisfeito, pois sua obra continuará alegrando milhões de fãs mundo afora.