O óbvio ululante
A periodicidade das crônicas neste espaço é semanal.
Da última vez, circunstâncias especiais resultaram em que as “Minudências”, postadas em meados deste julho findante, tenham ficado por aqui mais tempo. Uma única exceção.
Esta, portanto, - “O óbvio ululante” - tomado o título por empréstimo de expressão do saudoso e irrequieto Nelson Rodrigues, aqui deverá estar somente nos próximos três ou quatro dias. Tudo isso para manter no todo e não se alterar, o hábito consagrado de há meio século de jornalismo em Itu, presença certa a cada sete dias. Prática arraigada e sequente, graças a Deus.
Tem sido assim quase que praticamente desde os tempos de “O Trabalhador”, “Salve Maria”, “Tribuna Ituana”, “A Folha de Itu” e, até dezembro de 2013, principalmente em “A Federação”, nesta então, ininterruptamente, desde abril de 1977.
Neste site, de honroso acolhimento, a primeira crônica data de julho de 2007.
Sábado ou domingo vindouros, já agosto portanto, volta-se com recado novo.
Abra-se, então com a surpreendente e refutável declaração da Secretaria de Assuntos Jurídicos da Municipalidade, em entrevista de seu titular, de que de fato não chegaria a faltar água em Itu, porque o racionamento se opera em horário noturno, com torneiras liberadas desse líquido durante o dia.
Inacreditável.
Não sem motivo e em boa hora, mais do que apropriada, talvez até o devesse ter feito antes, comparece a douta Promotoria de Justiça em defesa dos ituanos e conclama o Executivo a até declarar situação de calamidade pública perante a insuportável e por demais dolorosa falta de água em Itu.
Claro que é risível, se não fizer chorar, a declaração em plena campanha política do candidato vencedor, na mídia social, de que existiria em Itu uma lenda, a de que nesta terra faltaria água. Pois a dar-lhe crédito, a lenda se fez realidade.
A Promotoria vai além e preconiza querer para seu conhecimento todos os detalhes e pormenores da alarmente situação, uma vez que Itu sempre teve baixos índices pluviométricos e que a estiagem por si só não justificaria o descalabro atual. Prova pois da desatenção de variadas gestões, com muito a se reclamar contra a falta de investimentos no setor. Destaca principalmente, a autoridade judicial, que necessita de todos e quaisquer informes sobre gestões da Prefeitura, da Agência Reguladora e da concessionária. Manda impor-se paradeiro provisório no lançamento de novos loteamentos, construção de edifícios e instalação de condomínios, até que os problemas se resolvam. Tanto mais que em recente Comunicado ao Público da Prefeitura, ela própria faz referência expressa sobre “irregularidades” praticadas pela concessionária.
Essa determinação judicial, de si mesma relevante e providencial, em respeitosa e cômica comparação, pareceria algo semelhante à represália dos pais de menores que regateiam por não fazer as lições de casa.
Já o secretário de Negócios Jurídicos informa que se vai estudar a oportunidade ou não de declaração de calamidade. Quando?
Medidas suasórias apenas, porém de bom senso, seria fazer chegar a todos os quadrantes da cidade caminhões fornecedores de água, quantos fossem necessários, por conta dos cofres públicos. Providência, claro, somente temporária. Urge, mais que tudo, a tomada de obras sérias e de vulto.
O mal vem de longe.
Certo dia, não se sabe por que, fecha-se o SAEE. Substituída a autarquia pela CAVO, de triste memória. Nada sonsa, já em outra gestão, celebra-se curioso aditivo à concessão que lhe fora outorgada. Segue-se a ação judicial dela contra a Prefeitura. Vence e faz jus à pesada multa.
Surge no entanto a ideia salvadora: que venha a Águas de Itu, tanto mais que, ao que consta, ela se encarregaria de pagar a multa.
Desde a dispensa do SAEE, quais obras de vulto e de prevenção aconteceram em Itu?
Ponha-se a ressalva de que tais pormenores, - questões e questiúnculas sobre o que tem acontecido desde o desaparecimento do SAEE, - quem saberá ao certo? A sequência ora exposta desses acontecimentos funda-se apenas naquilo de que, por alto, chega até aos munícipes.
Por último e em resumo, a constatar que o nó da crise de fornecimento do líquido sem o qual ninguém sobrevive, é de há muito notório e redundante.
Algo muito além do que pudesse ser tido como óbvio e ululante, mesmo aos olhos da mais distraída das pessoas. Todo mundo viu, vê e sabe. Menos a Prefeitura.
Baldes de água nos banheiros... Louças amontoadas por sobre as pias... Banho em casas de parentes em cidades vizinhas; Salto que o dia... Fila nas escolas para utilização dos sanitários...
Nesta semana, de permeio e como consolo, se noticia a esperada celebração de intenções ou consolidação de início da instalação em Itu, da “Foxconn”.
Além de se assegurar de outras providências primárias e essenciais, a novel fábrica consultou a Águas de Itu, que lhe teria respondido estarem adiantados os estudos do cronograma das obras necessárias ao fornecimento de água e coleta de esgoto, no futuro parque de obras daquela empresa...