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Publicado: Sexta-feira, 26 de junho de 2009

O odor vem de Brasília

 
Repete-se com o atual presidente do Senado, maranhense que hoje representa o Amapá (nada a ver), o mesmo episódio vivido pelo presidente alagoano, que o antecedeu.
 
Para um e outro, começaram a surgir na mais circunspeta das casas legislativas do país, sugestões e convites para o afastamento do cargo.
Os apelos eclodem por parte de simpatizantes e antagônicos do atual ocupante.
 
De uma vaidade insaciável, o preclaro cidadão, dono de seu estado de origem e com mãos, portanto esticadas até o vizinho Amapá, não lhe bastam todas as mercês por ele apropriadas ao longo da vida pública. Quis pela vez terceira comandar o Senado.
 
Afeito, desabridamente, a favorecimentos pessoais e a familiares, encontrou um grave problema nos últimos meses: a ventilação das artimanhas dele e de um número enorme de companheiros dos 81 senadores da República.
 
Os principais jornais de São Paulo – os do Rio e de outros estados certamente que também o fazem - passaram a focalizar sucessivamente, da farra das passagens à prática indecente do nepotismo. E sabe-se lá o que mais seja.
 
A revelação vem em catadupas, abundantes, vergonhosas, sem fim. Autêntica e infinda enxurrada de facilidades e favores gerados a partir do erário público.
 
Tudo isso sabem os leitores e muito mais.
Está na ordem do dia.
 
O grotesco mesmo, se origina na panacéia mal disfarçada dos apagadores de incêndios e igualmente envolvidos.
 
Enquanto muitos advogam a saída pura e simples do mandatário da Casa, outros descobriram um recurso que somente a ingênuos – ou talvez nem a esses – poderia enganar. O de se atribuir culpa aos funcionários do Senado.
 
Quando é que vai passar pela cabeça de alguém, que, o funcionário, sabedor das regras de uma casa sem regras, iria, por si só, deixar de publicar algum ato ou decisão vinda de cima. Obviamente, mesmo que o fosse de modo verbal, o prestimoso servidor sempre obedece ordens.
 
Sim, dirão outros, um funcionário pode errar. E pode. Claro.
Mas errar centenas de vezes? E ninguém perceber?
 
E a questão não se prende se foram secretos ou não os atos, e sim à realidade, ou seja, os beneficiados estão ou não a perceber salários? Existem ou são nomes fictícios os parentes todos do generoso homem público?
 
De mais a mais – repita-se - não foi um ato isolado; perde-se a conta deles.
 
O bom de todos esses males, é que um dos senadores vislumbrou que essas revelações, num processo recorrente e espontâneo, vão alcançar daqui a pouco a Câmara, as Assembléias estaduais e chegarão às Câmaras de Vereadores.
 
Num mesmo raciocínio, tampouco ficaria de fora o poder executivo, nos três patamares.
 
Seria, se acontecesse mesmo, a redenção de um país, em que se aprisiona por um furto de tablete de chocolate e se deixa solto o político sabidamente enriquecido nas falcatruas.
 
Será que se passará o Brasil a limpo?
 
Mesmo que a utopia, num passe de mágica, viesse a ser verdade, alguém iria ressarcir ou devolver aquilo que angariou através do exercício viciado na vida pública? Jamais.
 
Eles continuarão a rir de todos.
 
E todos vão continuar também, mas continuar a posar de tolos, pagadores de impostos, convidados logo mais a votar de novo, nos mesmos nomes.
 
Esse odor fétido vem de Brasília.
 
E emana impune sobre a nação.
 
 
 
 
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