O Papai Noel e Jesus
Martinho estava desempregado há vários meses e ele e Mary sua esposa estavam muito preocupados. Suas parcas economias estavam quase acabando, o Natal se aproximava e eles, precisando fazer a maior economia, não poderiam festejá-lo.
Martinho passava os dias nas ruas à procura de trabalho. Prestava todos os concursos que aparecia, levava currículo para toda parte e enfrentava todas as filas para contratação de empregados.
No desespero, não escolhia mais serviço. Estava disposto a enfrentar qualquer coisa, mas não encontrava nada.
À noite, os dois folheavam os jornais a procura de “procura-se”, mas os tempos estavam difíceis, havia muita gente desempregada e pouquíssimos empregos disponíveis.
Naquela noite, o único empregado procurado era alguém para fazer o papel de Papai Noel em uma grande loja de brinquedos.
- Vou lá!
- Será que você tem coragem de fantasiar-se de Papai Noel?
- Por que não? Não vejo nada de mais nisso.
Martinho chegou ao local onde mais algumas pessoas se candidatavam ao cargo, mas o gerente engraçou-se com ele e contratou-o.
Ele tinha que ficar o dia todo na loja, caracterizado, receber toda criança que chegasse acompanhada da mãe, brincar com ela, oferecer balinhas e discretamente ouvir da mãe quanto estava disposta a gastar e só então encaminha-la para a seção compatível para os garotos escolherem o brinquedo que ele entregaria no dia de Natal. Depois tinha que distrair a criança enquanto a mãe fazia o pagamento.
Simples?
Parece, mas não era.
O gerente era mesquinho, não queria que ele oferecesse balas para crianças desacompanhadas (criança sozinha não compra nada) e o recriminava cada vez que uma mãe saia sem comprar.
As mães eram impacientes e reclamavam quando demoravam a serem atendidas.
As crianças faziam manha e toda sorte de malcriações.
Os vendedores estavam cansados e irritados e descontavam nele porque achavam que ele estava ganhando muito fácil, só para brincar com as crianças.
E ele tinha que estar o tempo todo sorridente, irradiando bondade como convém a um Papai Noel, apesar do cansaço, do calor e do desconforto da fantasia.
A música ambiente era terna e doce:
"Noite feliz! Noite feliz!"
Quando chegou a grande noite ele estava com as entregas devidamente agendadas, desde à tardinha, para as crianças pequenas que os pais queriam que dormissem cedo para eles irem a sua própria festa, os que queriam distribuir os presentes próximos a meia noite e até os que preferiam a madrugada.
Martinho desempenhou seu papel com toda dedicação. Contou histórias, fez brincadeiras, falou de Jesus.
Admirou-se ao descobrir que muitas crianças festejavam o Natal sem saberem quem é Jesus.
Nas casas por onde passou, nas festas das quais participou por momentos, pode constatar muita ostentação, muito desperdício, mas, pouca alegria autêntica, pouquíssima religiosidade.
Á medida que a noite avançava, as pessoas pareciam aborrecidas e entediadas. Testemunhou brigas, atitudes inconvenientes de pessoas alcoolizadas. Lágrimas e reclamações.
Mas a música era envolvente:
"Noite de Paz e de Amor!"
Ia alta a madrugada quando, terminada a tarefa, dispôs-se a voltar pra casa andando a pé pela rua, já então, pouco movimentada.
De repente notou que um menino caminhava a seu lado.
Fitou-o e...Oh! surpresa! O menino parecia possuir uma luminosidade diferente e pode até entrever uma auréola em sua cabeça.
- JESUS!
- Sim! Por que o espanto? Estou sempre por aqui, só que você não pode me ver. Hoje como é dia de Natal quis vir como um menino para participar da festa.
- E daí? Acho que não gostou do que viu.
Ele ri e conta:
Como toda criança gosta de festa de aniversário, fiquei encantado com o que vi. O Mundo todo estava festejando o meu dia! Nunca uma criança teve uma festa tão grande!
Escolhi uma casa muito chique onde dezenas de pessoas se divertiam em meio a muito luxo e muita fartura e fui entrando.
O porteiro barrou-me:
- Onde pensa que vai?
- Vim para a minha festa.
A dona da casa apareceu:
- Boa noite, senhora! Obrigado pela linda festa!
- Como assim?
- A festa está muito bonita. Posso entrar?
A mulher chamou a empregada e disse:
- Maria, dê qualquer coisa pra esse menino e mande-o embora.
E assumindo a sua máscara de bondade, (cara de noite de Natal), comentou com a amiga
- Coitado! Parece que é meio bobinho.
E a música continuava:
" Jesus! Rei da Luz!"
Resolvi, então, ir a uma casa pobre.
O marido estava embriagado brigando com a mulher que reclamava porque não tinham nada em casa para comer. A cesta básica só chegaria no dia seguinte.
O filho mais velho estava emburrado porque tinha pedido a mãe uma lata de goiabada de presente de Natal e a mãe dissera que não tinha dinheiro para comprar.
O mais novo tentava fazer um enfeite com flores silvestres porque a professora tinha dito que todos deviam enfeitar suas casas para o Natal.
O irmão o recriminava:
- Deixe de ser bobo. Você acha que Jesus vai gostar de flor do mato? Ele só gosta de gente rica, de enfeites bonitos.
- Não! Ele gosta de quem é bonzinho!
- Então me diga: Por que só criança rica ganha presentes? E ganha sempre, mesmo que não seja bonzinho?
O menino não soube responder e ficou pensando:
- Será que é isso mesmo?
Mas, ao longe alguém cantava:
"Pobrezinho, nasceu em Belem!"
- E você, Jesus, que fez?
- Nada. Cada qual tem que conquistar o seu próprio entendimento. Apenas inspirei a pessoa que lhes traria a cesta básica no dia seguinte para que acrescentasse uma lata de goiabada.
E continuou falando:
- O Pai pediu-me contas de minha tarefa aqui na Terra. Vim ver como estão os meus discípulos.
- Estão mal, não?
- Nem tanto, veja!
- Martinho voltou-se e viu o menino sobraçando um enorme buquê de maravilhosas flores, como ele nunca vira antes.
Ante sua admiração Jesus lhe disse:
- Veja! Estas flores simbolizam tudo de bom que encontrei entre os homens. Todo amor, toda fé, toda esperança, toda coragem, todas as conquistas espirituais que conseguiram seguindo meus ensinamentos. Vou oferecê-las ao nosso Criador como um tributo de agradecimento de toda a humanidade pelo magnífico presente oferecido há dois mil anos atr