Publicado: Sexta-feira, 16 de maio de 2008
O Passado: Renegado ou Abençoado
Ando preocupado com algumas investidas que andam sendo feitas contra o passado, inclusive por personalidades acima de quaisquer suspeitas. Deixo de lado as considerações políticas, porque nessa esfera da atividade humana, é comum a culpa pelos desvios, irregularidades, falta de melhorias ou progresso serem atribuídas aos governos ou administrações anteriores.
Quando se joga a culpa a fatos ou episódios ocorridos na Idade Média, ou há mais de quinhentos anos admite-se tudo tranquilamente. Não há descendentes, sequer sobreviventes para contestar. Mas para fatos relativamente recentes, é muito caradurismo e ignorância do expositor, ofender os seus antecessores: é o caso, por exemplo, que ocorre com certa freqüência em clubes ou entidades cívicas de exaltarem os feitos da nova diretoria, deixando a entender que a anterior não fazia ou não fez nada.
No âmbito religioso, a modernidade avançou bastante e costumes e práticas usuais de 30 ou 40 anos atrás, desapareceram total ou parcialmente. Essas práticas, porém, muitas vezes, são levianamente renegadas pelos novos propugnadores religiosos, de forma inábil e deselegante, pois revestidos, quase sempre, daquele sorrisozinho cínico de sabedoria e superioridade.
Aliás, cheguei a dar uma definição da vida como sendo “a sucessão de momentos presentes, advindos do futuro e que se incorporam ao passado”. A concretude de nossa vida, portanto, consiste no passado, que nada mais é do que o conjunto dos momentos (futuros) vividos.
Desta forma, devemos ter o máximo cuidado em viver bons momentos, para que nosso passado não venha a ser renegado. Talvez a melhor forma de valorizar o passado seja considerar como é execrável para assassinos e bandidos de todas as espécies carregarem o fardo das suas sombrias e pesarosas recordações. Revirando o verso dessa medalha, podemos encontrar o passado abençoado. Iremos nos regozijar imensamente com as boas ações praticadas e o permanente esforço para agir com lisura e honestidade.
O repositório do nosso passado, armazenando todos os belos momentos é de riqueza incalculável. Se dessas recordações, inelutavelmente perdurarem alguns resquícios de desagradáveis instantes, saibamos também emoldura-los com beleza, resignação e dignidade.
Concluímos, então, sobre a indispensabilidade da boa educação e dos esforços contínuos e eficientes para que todos venham ter acesso ao conforto que a vida em sociedade deve oferecer. Com vida material mais tranqüila, aumentam as chances de se construir passado venturoso.
Há necessidade, portanto, que os governos priorizem verbas substanciosas para a educação e reduzam a carga tributária (uma das maiores do mundo), porque o imposto representa sacrifício pesado, impediente de tranqüila vida material. O futuro nos aguarda.
Não é crível que a violência e o narcotráfico impeçam, com tantas facilidades, o advento do benfazejo progresso, causando desgraças e sofrimentos a grande parte da população. Que todos venham a ter passados abençoados, inspiradores de alegrias, sonhos, venturas, mergulhados em enternecidas saudades.
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