Publicado: Segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
O que diria Camões ...
Para começo de conversa, fica o lembrete de que nestes primeiros tempos de vigencia da nova ortografia da língua portuguesa, neste e nos textos das próximas semanas, pode haver um misto dela com a anterior.
A anterior, porque seria desapreço chamar a outra ortografia de velha, se ela valeu até ontem. Anterior tambem, porque fica perfeitamente previsto que o pessoal não vai se adaptar assim rapidamente.
Foi feita uma leitura rapida de toda ela, a nova, sem aquela reflexao necessaria para reter todos os recentes informes de como se ha de escrever daqui para a frente.
Não fica pejo algum em reconhecer de publico, nesse particular, uma certa lentidao, quase preguiça ou mesmo ainda uma ojeriza velada, para desaprender e aprender, tudo de uma vez, embora nao sejam tantas as inovaçoes. Supressoes, para melhor definir.
A denominaçao correta nem seria reforma, mas quando muito, facilitaçao e simplificaçao da escrita, com o que, obviamente, perde-se muito e muito da riqueza e das sutilezas do idioma.
Joga-se no lixo as primicias da etimologia, porque a explicação da origem do latim e do grego para formação de muitos vocábulos, aos poucos vai se mostrar inócua e até inaplicável.
Só como exemplo do desapreço e desconhecimento das riquezas da língua portuguesa, ha uma interpretaçao que se fixou, nao por via das reformas e sim pelo uso e atribuiçao de justificativas dubias.
Atente-se a que, no paragrafo anterior, fala-se “Joga-se no lixo as primícias...”
Não vai faltar quem queira encontrar lapso de concordancia, que estaria a exigir flexão do verbo para o plural (como se devera dizer: Jogam-se no lixo as primicias). Muitos filólogos, mais modernos, e também gramáticas ensinam que se flexiona o verbo, porque posta a frase na voz passiva, se diria: “primicias são jogadas”.
Aí entra o latim, numa construção peculiar daquela lingua, que morta alimenta outras ainda vivas, atraves da singularidade do que se convenciona definir a regra do “acusativo com infinitivo”.
Antes se diga, como talvez haja quem nao saiba, que os vocabulos em latim tem todos sua característica expressão, pelo que se chama “declinaçao”. Já a declinaçao tem suas variáveis, (casos) que vão, em seis aspectos, do nominativo ao ablativo.
Em suma, quando se usa os termos “a gente”, (no francês “on”) e expressões equivalentes, aplica-se o expediente do “acusativo com infinitivo”, quando se trata do latim.
E, advindo do latim justamente, diz-se de modo inteiramente correto “Joga-se as primícias”, como também “vende-se casas” e assim por diante, com o verbo não flexionado, porque impessoal. Desnecessário, de rigor, dizer-se “vendem-se casas”, perante a simplória explicação de que na voz passiva se falaria “casas sao vendidas”, “casas” como sujeito de uma frase.
Estendeu-se o comentário de hoje, sobre mais uma mudança de ortografia, com o fim de demonstrar o quanto se torna facilitada a expressão e a escrita, em detrimento do estilo escorreito, pelo menos dos bons escritores, abundantes em todas as naçoes que falem o portugues.
Compreensivel deveras a relutancia dos residentes em Portugal, com um linguajar fluente e peculiar, ainda arraigado de grafias aqui estranhas.
Para os irmaos europeus, as supressões serao extremamente empobrecedoras. Aqui, muito menos. Por sinal que o termo “empobrecedor” nem existe. Facil, facil a gente cochilar... Ou inventar.
Entretanto e finalmente, ao ver grandes mestres da língua se manifestar, academicos inclusive da inefável e respeitabilíssima Casa de Letras maior do país, para argumentar a necessidade da mudança, a gente respeita se curva.
Pondera-se que é preciso unificar a forma de manifestaçao da quinta lingua mais falada no mundo.
Quinta? Isso mesmo?
Também se pode concluir que se poderia exigir o inverso, o da unificação com a fala do povo em que ela tenha nascido...
O mais complicado em suma, é que se altera a grafia e se elimina a acentuação. E a pronúncia, como fica? Inalterada agora, mas, ao longo do tempo, cada país idealizará e assumirá a sua. Vai restar entao a homogeneização da grafia sob tonalidades várias.
Será?
Vá lá saber...
Aviso ultimo: não se leve tão a sério o presente verbalismo, muito mais uma divagação, isto sim. Afinal, longe de se hastear aqui a bandeira de domínio da verdade...
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