Publicado: Quarta-feira, 26 de dezembro de 2007
O Quinto Compromisso
Paro, sinto e reflito: O que posso fazer para que meus dias traduzam o que quero e sou? Como posso transformar cada instante do meu viver em momentos de amor, compaixão, compreensão e beleza?
Diante dessa interminável busca, leio um livro que “me pega”. Curioso como alguns livros passam em branco, enquanto outros ficam tatuados em nosso pensamento, alterando significativamente os nossos passos.
Um livro não precisa ser pretensioso, com 600 páginas e capa dourada. Não que eu não goste desses, eu gosto também. Mas simplesmente reflito que para um livro virar amigo de cabeceira ele pode ser de qualquer jeito: fino, grosso, bonito, feio, novo, velho, com palavras difíceis ou com simples mensagens.
Esse livro que eu estou me referindo é daqueles despretensiosos, sem pesquisas literárias ou referências bibliográficas, isento de imagens ou frases de pessoas famosas no começo dos capítulos. Mas nem por isso é superficial. Simples é uma coisa, superficial é outra.
O livro foi escrito a partir de uma experiência vivida pelo autor, Don Miguel Ruiz. Nascido no interior do México e com profundas raízes indígenas, Ruiz foi fortemente influenciado pela tradição tolteca, mantida viva por sua mãe curandeira e por seu avô, um xamã. Educado para ser também um seguidor dessa filosofia, o destino o desafiou: no contato com a vida moderna, acabou indo estudar medicina e tornou-se um cirurgião e professor de cirurgia moderno, longe de suas raízes. Porém, uma profunda crise pessoal reaproximou-o de suas origens e fez com que se dedicasse intensamente durante vários anos ao estudo da tradicional sabedoria tolteca. Vale lembrar que, na tradição tolteca, um xamã (nagual) é alguém com a função de orientar outras pessoas no sentido da obtenção da liberdade pessoal. Ruiz é, sem dúvida, um nagual. É daí, então, que nasce o seu livro “Os Quatro Compromissos”.
Eu amo livros vivos, em que o autor conta sua própria história e traz ensinamentos a partir de suas vivências. Afinal, o que mais podemos oferecer a qualquer ser humano senão a nossa singela vida como exemplo?
Neste livro, Dom Miguel Ruiz aborda hábitos e conceitos simples, que todos conhecemos, mas que, infelizmente, no nosso cotidiano moderno, deixamos de praticar. O livro nos instiga a querer mais de nós mesmos e nos desafia a não desistir, apesar dos nossos milhares -e inevitáveis - escorregões. Os quatro compromissos são:
Seja Impecável com a Palavra
Já que ela é a ferramenta mais poderosa que você tem, use-a sempre para a verdade e para o bem. Assim como a palavra é capaz de construir também pode destruir tudo em questão de momentos.
Não faça fofocas. Elas só espalham um veneno que pode voltar contra você depois.
Cumpra sempre o que promete
Ser impecável também significa assumir a responsabilidade por seus atos sem se culpar por esta ou aquela escolha.
Não Tire Conclusões
Seus dramas e tristezas existem porque você acredita que as suas conclusões são as corretas. Imagine o dia que você não tira conclusões sobre o seu parceiro ou sobre todas as pessoas com as quais se relaciona. A forma mais fácil de evitar confusões é perguntar - e não deduzir - quando você não entende algo. Uma vez ouvida a resposta, não sobrará espaço para falsas conclusões.
Não Leve Nada para o Lado Pessoal
Não sofra pelo que os outros dizem a seu respeito ou para você. Nada disso é motivado por seus atos, e sim por quem fez os comentários.
Cada um vive num mundo diferente. Levar tudo para o lado pessoal significa presumir que os outros conhecem o seu mundo.
Esse é o pensamento deles sobre o mundo, não o seu. Se você estiver imune às opiniões e ações das pessoas, evitará sofrimentos desnecessários.
Sempre Dê o Melhor de Si
O último compromisso permite que os outros três se tornem hábitos. Em qualquer circunstância, sempre faça o melhor, nem mais nem menos. Dessa forma, você não vai julgar a si mesmo, nem se sentir culpado ou se castigar quando não conseguir cumprir um acordo. É a ação que faz a diferença.
Refletir e exercitar os quatros compromissos pode mudar a sua postura diante da vida.
São esses os Quatro Compromissos, de Miguel Ruiz. Que eles possam inspirar você, assim como me inspirou. Escrevi-os na tela de fundo do meu computador, com uma linda imagem, muito significativa pra mim, e sempre que posso dou uma lida, para me lembrar. Saber é uma coisa, fazer é outra. Para fazer, é preciso estar sempre atento, sempre mesmo.
Tomo, então, a liberdade de complementar com a declaração do meu quinto compromisso: andar a minha palavra. Esta expressão, que aprendi através dos ensinamentos xamânicos, me lembra a todo instante que sou responsável pela minha vida. Que tudo aquilo que me acontece, é de certa forma o espelho do que eu gero para mim e para todas as minhas relações. Andar a palavra significa agir de acordo com o que falamos, pensamos e queremos. Portanto, se emanamos reclamações, raiva, mágoas, tristeza, culpa e desconfiança, isso é simplesmente o que receberemos de volta.
Sei que a distância entre querer e fazer é longa, mas posso manter firme essa intenção, a cada novo amanhecer. E tenho consciência de que andar a minha palavra é um intento para ser perseguido por toda a vida.
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