O silêncio e o silêncio
Existem muitos tipos de silêncio. Mas se eu fosse resumir, diria que há apenas dois: o silêncio que abre e o silêncio que fecha; o que cria e o que abafa. O que acolhe e o que afasta; o que sabe e o que esconde; o que espera e o que busca.
Somos diariamente confrontados com o nosso silêncio. No entanto, ouvimos muito mais os nossos barulhos, que agitam as emoções quando estamos com raiva, medo e expectativas desfeitas.
Quando digo que existem dois tipos de silêncio, penso que ele pode ser um grande amigo ou um forte inimigo. Portanto, é nossa a decisão de escolher de qual lado queremos ficar.
O silêncio é nosso amigo quando aprendemos a nos recolher diante de um incômodo, buscando o melhor caminho para crescer frente aos desafios que aparecem diante de nós.
O silêncio nos abraça quando conseguimos não jorrar nossas inquietações e ansiedades nas pessoas que mais amamos. Nessas horas, o silêncio é nosso aliado, sábio, suave e acalentador.
Em outros momentos, o silêncio pode ser cruel quando calamos nossa alma para nossos sonhos, desistimos de falar o que queremos, aceitamos morar na incômoda mudez que camufla nossas mais tenras emoções. Esse silêncio é traiçoeiro. Ele nos faz acreditar que é melhor ficar calado e resignado e nos deixa perdidos em nossos pensamentos de injustiça e solidão. Ele engana nossos olhos, mostrando segurança e conforto em um lugar onde existe apenas trevas e escuridão.
Precisamos aprender a discernir esses dois tipos de silêncio, o amigo e o inimigo, o que expande e o que reduz, o que une e o que separa. Os dois são necessários para aprender a viver, pois assim como luz e sombra, fazem parte do mesmo despertar. Mas podemos ao longo da vida tomar pequenas decisões que farão grande diferença. Não calar diante do incômodo e da humilhação, acreditando sempre na possibilidade de salvar a alma. E em outros momentos, em vez de atacar as pessoas que amamos com expectativas, julgamentos e críticas, chamar o silêncio para tranquilizar o nosso barulho interior.
O silêncio e o barulho são bem concretos. Eles correm em nossas veias, chamam nossas lembranças, contam histórias e delineiam o nosso destino.Não podemos nos livrar deles. Mas podemos — sim — aprender a entender seus códigos e decifrar suas mensagens. Podemos ficar reclamando da vida, calado por dentro e estranho por fora. Ou podemos abrigar nossas dores — que são também as dores do mundo — e fazer com que o nosso caminhar seja belo e iluminado, independentemente do que possa nos acontecer. Tudo depende do tipo de silêncio que vamos escolher para nos acompanhar nessa longa jornada que é a vida. Porque afinal, existe o silêncio e o silêncio.