Onda insana
Vive-se no Brasil a onda da desfaçatez.
Jamais se atribuiu figuração tão perfeita à movimentação do vai e vem das ondas do mar, como figurar nelas o desenho e a ideia de como repercute a sociedade neste país, infelicitado de todo.
A população, em elevado percentual no seu contingente de desconhecimento de realidades todas, é livremente movimentada a oferecer balbúrdia para causas, cujo âmago nem sabe do que se trata.
Multidões esbravejam, se excedem, enfrentam-se, enquanto a máquina corruptora empreende velocidade infrene no seu descaramento, até pouco tempo, impune.
O populacho, incoerente, enquanto depreda presta-se a se fazer capa na estripulia dos que legislam e governam. Puro desvio de atenções.
Graças ao Judiciário, o poder que ainda se salva conquanto tenha lá seus pecaditos de uma remuneração afrontosa à miséria nacional, esse tomou ou tenta tomar as rédeas da decência para coibir a desfaçatez, tanto dos políticos como do clã pérfido das empreiteiras e quejandos, que detonaram o Brasil.
A ignorância popular, então, essa serve de pano de cobertura. Presta-se vulgarmente a esse desvio de, a título de reivindicações, no fundo servir o opróbrio de executivos e legislativos, estes considerados no seu todo, ou seja, os alojados nos municípios, nos estados e na federação.
Nada nem ninguém se salva desse afrontoso conglomerado.
Se substituições, - “se”, - acontecerem com a condenação dos faltosos, toda fauna se repetirá, quem não sabe? Suplentes não demonstram outro fito senão também o do aproveitamento particular.
De todo modo, mudança no plano municipal, já se poderia fazer e a partir das cidades uma era salvadora ocorrer.
Olha, então, que daqui menos de um ano as alterações estarão nas mãos do povo.
E tudo vai mudar? Claro que não. Veja-se por aqui mesmo que elenco se apresenta. Tanto mais que, juntamente com a hombridade é preciso que os candidatos tragam consigo competência.
Essa dupla de quesitos, hombridade e competência, nessa área, não andam mesmo juntas.
Não se sabe por que, não divulgada como notícia extraordinária, aconteceu o levante popular, pacífico e ordeiro, dos munícipes de Oliveira, cidade de quarenta mil habitantes, em Minas Gerais.
Diante da pretensão de prefeito, secretariado todo e vereadores de aumento de salários, tomaram o recinto da Câmara por dias seguidos e sem arruaça nem agressões, promoveram, ao invés de elevação, redução de vencimentos dos cargos de todos eles.
O povo se impôs.
Ato contínuo, inspirada em Oliveira, mais cerca de meia dúvida de comunas no estado do Paraná, fizeram o mesmo.
Ah, se esse levante se transformasse em ondas que vêm e que vão mas na verdade não param e a nação toda se insurgisse contra a falta de vergonha e de caráter – desfaçatez – no sentido próprio do vocábulo, prática malsã que contaminou por completo a desvalida política nacional.
Ondas, essas, não insanas.
Em suma, ainda não se proibiu sonhar ...