Onde estão as crianças?
Esta, uma pergunta, talvez não feita explicitamente, mas guardada na mente e no coração de muitos dos avós.
Para alguns, quem sabe, ainda sem vir à tona, porque alojada por ora no recôndito ainda do inconsciente. Vivem, porém sem o saber essa circunstância, ou necessidade.
Com a consciência de que não existe nada mais sem sal nem pimenta do que rever o passado, coisas de antanho, costumes abolidos, teima-se em por em dúvida, se a evolução só traz benefícios.
As mudanças e a tecnologia não deixam nenhum invento envelhecer, sobrepostas que são no dia seguinte todas as inovações.
Aquela cadeirinha voadora já, já, aparece por aí.
Retome-se contudo o cerne do assunto.
Os pequeninos, a começar até dos aprisionados em muros altos e com reduzida área de circulação, esses então se soltos num centro movimentado, talvez fiquem estupefatos, mudos e parados.
Seja mais abrangente porém o foco.
Fale-se das crianças de um modo geral.
Será?
Será que não faz falta a singeleza do boizinho de chuchu, com perninhas de palitos de fósforo.
Será que não lhes faria bem a ingenuidade do folguedo no mero rodar de pneus velhos?
O pega-pega nos recreios, no jardim do Carmo ou da Matriz, sem risco algum. Quase a extensão da próprias casas, tamanha era a segurança.
Os avós, sim, fossem vistos na sua infância, seriam tidos quase por bobinhos. Motivo de riso até, para as crianças de hoje.
Santa inocência.
Por que esburacar antecipadamente a mente infantil, como hoje, em que o menor de três anos brinca de escutar o irmãozinho na barriga da mamãe, barrigas expostas nuas em público muitas vezes? Até nas praias antigamente as grávidas, - aquelas que iam, poucas – tinham ao menos o pudor de ter uma veste ampla que lhes encobria o abdomem.
Pois é.
Outrora o nascimento de alguém na casa, era quase uma novidade. Percebido de última hora. Irmãos pequenos vibravam. Ignoravam – por ora de modo algum lhes interessava saber – como se geravam filhos.
Quem conheceu no passado, há vinte, trinta anos, mocinhas solteiras darem à luz em tenra idade e fora do casamento? Rotina de hoje.
Aquilo que seria preâmbulo a este enfoque sem graça se estendeu em demasia.
Crianças modernas são levadas a serem adultas – e não se estica a idade de forma milagrosa, até o físico deles a isso se recusa – ao se lhes atribuir ocupações em excesso.
É elegante, bonito, gabam-se os pais, de que meninos e meninas não tenham tempo mais para brincar.
Cursos infantis, berçários, creches e quejandos, suprem (não suprem) a ausência das mães, modernamente entregues a quaisquer ocupações externas.
Nada substitui o calçar das meias e sapatinhos de manhã, aquele feito pelas mamães. Nem as vovós nem as babás. O instinto infantil é penalizado por não ver a genitora nesse e em outros momentos importantes de seu crescimento, em que deveriam ser acompanhados de perto.
Vejam.
O papo fluiu e se desconcertou de novo. Saiu da intenção inicial. Perdoem a desordem.
Onde estão as crianças, mote principal da crônica, é a pergunta dos avós, que não mais os encontram em casa.
Aulas de tênis, natação, informática, inglês, coral, futebol, dança do ventre e sabe-se-lá o que mais..
Com tudo isso também os avós estão prejudicados.
Durante a semana, pensar que sobre um tempinho para conviver com os netos, como? Nos fins-de-semana, quase sempre e é justo, estarão com os pais.
Os netos, poder tê-los consigo algumas horas, creiam, são importantíssimos aos avós.
Tampouco se ignore que não fossem solicitados nos raros minutos deles, os menores, pela atração dos brinquedos eletrônicos e videogames, aprenderiam sim e muito na convivência com os pais de seus pais. Pais duas vezes.
Papo careta, este, é sabido.
Nenhum pejo porém do cronista em trazê-lo aqui.
Será?
Será que algum dia vai-se perceber que é vital permitir que as crianças sejam primeiramente crianças?
Brincar é preciso.
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