Ontem e Hoje
“ Quem deseje escrever a história desta cidade, não poderá abrir mão de uma das principais fontes de consulta, que são, exatamente, os arquivos dos noventa e quatro anos deste jornal.
Eminentemente religioso, mesmo que somente sob esse aspecto, ainda assim, tanto através desse noticiário específico como pelas ilações que ele permite, seu repositório é de inestimável valor. Nunca entretanto esta folha deixou de veicular notícias desta cidade, num sentido geral. Se o fizera antes com algum comedimento, nas últimas décadas e, preponderantemente nesta última, deixou de ser assim. Quase que com a mesma ênfase, o noticiário geral, os apreciados articulistas sobretudo, toda matéria enfim, está bem distribuída e variada. Recorde-se, para apenas um exemplo, de memorável atuação nossa no caso da elevação dos salários dos vereadores locais, em 1996.
Mas, apesar disso tudo, nota-se que só a vida interna desta Casa é que não tem merecido comentários. Claro que as marchas e contramarchas, os altos e baixos dos bastidores, não precisam ir necessariamente ao domínio público. Quantos aspectos curiosos, porém, quantos lances de relevo, perderam-se, diluindo-se no processo da mera tradição, que ao longo do tempo se fragmenta até desaparecer de vez. Raramente, dos poucos amigos ainda vivos, se ouve contar uma passagem interessante ou um fato marcante da nossa vida interna. Mesmo assim, não tão antigos.
Queremos hoje consignar, por isso, um lado preponderante que sem dúvida surge como linha divisória na cultura desta Casa. Quando o povo se refere à “A Federação”, claro que abrange tudo quanto aqui acontece.Não faz distinção entre o Jornal propriamente dito e a Associação São Paulo da Boa Imprensa, sua mantenedora. Também internamente, os esforços de todos se confundem num mesmo ideal, mas não significam que todos trabalhem, em todas as áreas. Há, na diretoria da Associação, aqueles que de há muito também se constituem em conhecidos colaboradores do Jornal. Mas, em termos administrativos, especificamente, neste aspecto, introduziu-se na Casa uma nova mentalidade. “A Federação”, como um todo, para nos referirmos do mesmo modo como o povo o faz, vinha sendo conduzida num estilo quase empírico. Deu-se-lhe ultimamente a cor exata de uma verdadeira empresa. Fastidioso agora, tecer em miúdos o quanto custou uma tamanha e exaustiva transformação, sem se falar nas incompreensões sobre aqueles que ousam sair da mesmice e da rotina. A mudança é sempre refratária.
Para retomar o histórico não escrito, digamos assim, fiquemos com aquilo do alcance apenas nosso, mais recente, parte vivida diretamente e parte colhida no relato de terceiros. Perdeu-se a conta de quantas vezes no passado a Casa entrou em crise, por motivos diversos, ressaltando-se aqueles de ordem financeira. Assim é que, no final da década de oitenta, sob o risco de fechamento, a instituição foi salva por uma rifa, de que muita gente ainda se lembrará. Representou na época a salvação e esse aporte de dinheiro foi tanto mais significativo porque o objeto, um automóvel, de número não vendido, voltou para o Jornal. A virada da década ocorreu portanto num clima de relativo conforto, feitas aquisições e melhorias. Passado algum tempo, eis que se anunciam novas dificuldades. Providencialmente, porém, chega um auxílio externo, da entidade alemã ADVENIAT, por solicitação de Dom Amaury. Novo fôlego, até fins de 1994. Outra vez, então, sinal de que as finanças estavam prestes a exaurir-se.
Exatamente aí, entre o final de 1994 e abril de 95, consolida-se a diretoria atual. Gente nova, não de idade necessariamente, mas pessoa certa para lugar certo. Homogeneidade na forma de concretizar ações, mesmo que anteriormente tenha havido na equipe diversidade de opiniões. Assim, com naturalidade e firmeza, a pouco e pouco, ajustaram-se as peças e – agradável surpresa – o balancete, depois de alguns meses, começou a apresentar tênues resultados positivos. Não houve milagres. Fecharam-se primeiro ralos de perdas de anos a fio. Sobreveio um exaustivo empenho de cuidadosa cobrança na dívida ativa. E, até para a compra de um simples alfinete, só se o fazia com o máximo critério. Para dizer em poucas palavras o que tem sido essa tarefa, afirma-se aqui, sem favor nenhum, que não houve reestruturação da Casa. No fundo e em verdade, “A Federação” foi estruturada.
Seguiram-se a correção na área de recursos humanos, obra ingente, e as melhorias físicas no mobiliário e no prédio, até resultar na magnífica sede, visível e inegável. Cumpre ver o prédio de duas maneiras. Quem o visite sem nunca tê-lo conhecido antes, fará sua própria apreciação. Outra sem dúvida a visão de quem anteriormente o conhecera. Com recursos próprios, sem jamais ter pedido ou recebido ajuda de quem quer que seja, criou-se antes a verba necessária e só depois as obras foram realizadas.
Para tantas conquistas, é deveras curto o prazo de quatro anos, 1995 a 1999.
Este portanto um aspecto que precisa ficar inscrito no próprio Jornal, para conhecimento dos pósteros. Sugerimos que doravante assim se faça. Entre tantas inovações, registre-se a prestação periódica de contas, em relatórios pormenorizados, endereçados ao Pároco da Candelária, sob cópia ao Sr. Bispo.
Não promovemos rifas nem nos chegou ajuda externa. Recursos advindos exclusivamente do Jornal e de alguma prestação de serviço na área da própria Igreja. E quem porventura nos sucedesse hoje não encontraria cofres vazios. Não dispomos de somas vultosas, mas com certeza o suficiente para continuidade dos negócios.
Graças a Deus.
Deus seja louvado. “
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Esse relato, com o mesmo título, foi publicado no jornal “A Federação”, edição de número 4905, de 12 de junho do ano de 1999. Na época, algo à guisa de prestação de contas.
Nesse ano de 1999, na edição de Natal, ocorrera a maior edição do jornal de todos os tempos, com vinte e oito páginas.
Edições normais se compunham de dois recheados cadernos.