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Publicado: Terça-feira, 25 de setembro de 2018

Opinião: Pública ou Própria?

Crédito: Internet Opinião: Pública ou Própria?
Valoriza-se demais a opinião pública, em detrimento da opinião própria.

Os que estão acostumados ao noticiário volta e meia deparam-se com frases assim: “O mercado teme que tal candidato seja eleito”; “O sistema não suportaria a eleição de tal candidato”, “A opinião pública está contra o que pensa candidato tal”. No campo da linguagem muitos jornalistas tentam vender para os leitores o conceito de algumas entidades gigantes que regem certos aspectos da sociedade. Porém, leitores mais atentos sabem questionar. Afinal, quem é “o mercado”? Quem é “o sistema”? Quem é “a opinião pública”?

                Detenhamo-nos sobre esta última. Numa análise superficial somos tentados a valorizar demais isto a que se chama de “opinião pública”. Trata-se, na verdade, de um pensamento que nos torna escravos das idéias alheias. Por exemplo: você é contra a pena de morte mas a “opinião pública” é a favor; logo, sente-se pressionado a aderir à idéia, para não sentir-se excluído ou não discordar da maioria. Como dizia o poeta e jornalista inglês Alfred Austin (1835-1913): “Opinião pública é o que as pessoas acreditam que as outras pensam”. É como interpretar o termo no sentido de “senso comum”.

                Um conceito predominar em meio à opinião pública não significa afirmar que esta seja realmente útil ou correta para a sociedade. Estudos comprovam que, na Alemanha da década de 1940, a “opinião pública” de então não via nada de errado nos planos de Hitler para o extermínio de judeus. Pior: a “opinião pública” não moveu um só palito em favor dos judeus quando estes foram confinados em guetos, tiveram suas propriedades confiscadas e enfim foram levados a campos de concentração para serem assassinados. O jornalista francês Sebastien-Roch Nicolas de Chamfort (1740-1794) costumava dizer: “Há tempos em que a opinião pública é a pior das opiniões”.

                Por fim, mas não menos importante, também podemos enxergar no conceito de “opinião pública” uma tentativa de confirmar alguma opinião que não tem, por si mesma, força argumentativa para convencer a todos. Então, usa-se a prerrogativa de uma falsa autoridade da “opinião pública” para justificar seja lá o que for. Quem faz muito disso é a mídia fakenews. Sem ter como comprovar suas afirmações, apela constantemente para essa carta coringa da “opinião pública”. Por exemplo: a ampla maioria dos brasileiros é contra o aborto; mas a imprensa vive afirmando que a “opinião pública” pensa o contrário.

                O jornalista e primeiro-ministro britânico Winston Churchill (1874-1965) falava que “Não existe opinião pública, existe opinião publicada”. É verdade. Ainda hoje muita gente acredita no que sai no jornal ou passa na televisão, com uma inocência digna de crianças. Pensam que, se está impresso ou passou naquele canal, deve ser verdade.

                O problema é que a mídia nacional há muito tempo não representa mais, se é que um dia já representou de verdade, a verdadeira opinião de brasileiros e brasileiras. A opinião pública, que existe sim, de alguma forma, é muito diferente, sobre temas vários, do que aquilo que é publicado no dia a dia. Ainda bem que uma pessoa bem consciente sabe que, para muito além da opinião pública, está a capacidade de ter opinião própria. Esta sim pode representar a consciência de cada indivíduo, mas por outro lado é bastante difícil de ser encontrada nesta terra em que ter opinião própria é uma verdadeira afronta às massas de doutrinados inconscientes.

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