Publicado: Sábado, 21 de novembro de 2009
Ops!
“Ops!” mesmo. De repente me peguei fazendo exatamente tudo o que falo que não deve ser feito. Gente de carne e osso tem dessas coisas, falar uma coisa e fazer outra. Os índios norte-americanos usam a expressão “Walk your talk” (andar a sua palavra) como um grande desafio a ser alcançado. Um assunto para muitas páginas.
Vou contar essa história. Nós recebemos mensalmente pelo “fale conosco” do itu.com.br centenas de sugestões, dúvidas e críticas. Nunca deixamos uma pessoa sem resposta, esse é o nosso lema: tratar os leitores como ser humano, não automatizar respostas, lembrar que do outro lado da telinha está “alguém” e não “mais um acesso”.
No meio dos e-mails, chegou uma sugestão de uma leitora sobre uma reportagem: cães com necessidades especiais, após passar por doenças graves. Sensibilizei-me com seu breve relato e pedi mais informações, para ver se seria possível desenvolver uma matéria.
Ela se animou e dias depois - ou mesmo horas, não lembro - me enviou sua história detalhada. E foi aí que o “ops” entrou na história. Pela pressa e urgência do dia a dia, guardei o email na minha lista de “coisas pra ler depois” e lá ele ficou. Horas, dias, semanas se passaram. Cada vez ele ficava mais embaixo no meu Outlook. Eu sabia que estava lá, mas deixei para o famoso “depois, quando der tempo”.
Semanas depois ela me mandou outro email, perguntando se eu havia desistido. Eu respondi na mesma hora, dizendo que não tinha desistido, mas que estava dando prioridades às notícias mais “quentes”, mas que a dela entraria sim em algum momento. Aí entrou o segundo “ops”, pois respondi sem ter lido a história que ela havia escrito.
De noite, com pouco mais de calmaria, resolvi ler. Em cada palavra onde ela contava detalhes da saga de sua cachorrinha, com exemplos vivos de coragem e determinação, eu fui me sentindo cada vez mais envergonhada. Era uma verdadeira história de amor. E não há nada mais importante do que ler e contar histórias de amor. Essa é a urgência do mundo.
Isso me fez refletir: passamos bem mais da metade do nosso tempo propagando reclamações, injustiças e violência. Perdemos horas do dia assistindo noticiários manipuladores e hipnóticos. E temos pouco tempo para ouvir histórias de amor. Abraços, beijos e sorrisos cabem nos intervalos e poucas vezes recebem lugar de destaque. O que diremos então das histórias de amor? Ficam na lista das “coisas para fazer depois.” Amor pela vida, pelos filhos, pelos pais. Pelos animais, pela natureza, pela capacidade do ser humano de sobreviver e se reinventar. Amor pela história do outro e pela verdade de cada um. Pela experiência, pela inocência e pela possibilidade de recomeçar.
Peço ao universo que me dê sempre força e sabedoria para eu andar a minha palavra. Que o amor esteja sempre à frente na minha lista de prioridades. Que não haja nada mais importante e urgente do que vivê-lo a cada momento em todas as minhas relações. E se eu me desviar do caminho, que possa ter humildade e coragem para dizer: “Ops, errei! Vamos começar de novo!”
A História de Lucieny e de sua cachorrinha Luna já foi publicada. Se você tiver tempo (ops!) vale a pena ler!
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