Órfãos do progresso
Quem sabe tudo?
É desses dias, em reportagem especial, - as famosas páginas amarelas ou vermelhas das revistas semanais - que uma reconhecida autoridade na área do ensino, advertiu que praticamente todas as pessoas se tornarão reféns dos avanços da tecnologia, sobretudo no espaço virtual.
Sobrará uma meia dúzia de privilegiados detentores desse conhecimento.
As invenções e as novidades se superpõem diariamente e as possibilidades da internet são tão ilimitadas quanto intrincadas, numa área em que os peritos se constituirão num contingente reduzido, distante e inacessível. Sobrarão os outros, neste caso, - todos.
Os homens seriam ou serão os órfãos do progresso.
O pensamento mais comum vinha sendo o de que aquele que se abstiver do conhecimento virtual equivale hoje a um analfabeto. Por isso mesmo e se assim se afirma, é pior sua situação de analfabeto virtual do que a daqueles que outrora vinham sendo considerados apenas fora da alfabetização comum.
Só nesta consideração se vê e se constata que o próprio termo, a denominar a do cidadão que não sabe ler e escrever, está agora desdobrado. Não adianta só saber juntar as palavras para formar frases ou conseguir ler o que outros escrevem. Imprescindível uma familiaridade com o computador, ainda que mínima.
A gente até acha graça – e ri mesmo porque é divertido – ver jovens universitários que desconhecem a famosa “taboada”. Como também, surpreendentemente, muitos meninos e meninas, em redutos mais humildes, só conseguem escrever e ler, mas numa forma tão rudimentar, a ponto de não conseguir entender o que escrevem ou lêem.
É o inócuo pelo nada.
Ou o nada através do inócuo.
Toda essa situação é tão intrincada que, por ora, até no que se refere às perspectivas alinhadas pela autoridade acima, quem teria a esta altura condições plenas e seguras de afirmar estejam certas ou erradas?
Ainda é relativamente cedo – talvez seja, aliás – para conjeturas desta ordem. O imponderável está à frente e acima de tudo e de todos. O conglomerado humano, de certo modo, não caminha, mas é conduzido, sem saber ele mesmo para onde vai.
Esse quase desvario social e coletivo - e agora não se fala apenas do mundo virtual e da internet em particular – revela uma mole humana que caminha por vias tortuosas.
Vão-se em derrocada valores e verdades.
Princípios e virtudes esquecidos de vez.
Multiplicam-se os credos religiosos.
Seitas e religiões abrem exceções e modificam verdades antes irredutíveis.
Perde-se aos poucos o controle de tudo.
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