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Publicado: Sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Os idosos

De uns anos a esta data – hoje é o dia do Idoso – 27 de fevereiro, esses preclaros cidadãos passaram a ser vistos com os olhos de maior reconhecimento. Não propriamente na área do afeto e de um respeito sério para com eles, seja das pessoas em geral, seja dos amigos, dos familiares e até dos próprios filhos.
 
Granjearam os idosos um patamar, diga-se talvez, de maior liberdade individual, até porque a longevidade, sempre crescente, é um fato incontestável. Vive-se mais, sente-se maior disposição e, principalmente, do ponto de vista mental, eles permanecem arejados e conscientes.
 
Todo esse vento a favor, porém, é gradativo e, graças a Deus, permite dizer que o ativo ancião de hoje representa uma postura em nada parecida com provecto e talvez fechado de outrora.
 
Mas, como se destacou ali, logo na abertura, muito dessa evolução é mérito deles próprios, dos simpáticos velhinhos.
 
De um lado, a lei da vida, de que filhos se criam para os outros e, de outro lado, de que, da parte destes, não é pequena a quantidade dos que acham que seus pais, que afinal os embalaram no colo um dia, às vezes estorvam.
 
Uma vista mais atenta fará perceber como muitos venerandos senhores e senhoras são visitados ocasionalmente nas casas de repouso e nos asilos. Quando são visitados.
 
Já se ouviu uma declaração, certa feita, de um próspero cidadão, perguntado pelo seu genitor que vinha sendo pouco visto ultimamente. Tratava-se de um senhor alegre e comunicativo, partícipe que era e ativo freqüentador das rodas de amigos. Sim, ele estava ótimo, respondera. Como o filho tinha recursos, gabava-se de dizer que o papai estava numa casa de repouso, com todo conforto, piscina térmica, comida de primeira, local aprazível. Um ano depois, ocorreu a missa de sétimo dia desse homem descontraído. Fechara-se em si de tristeza e saudade de quando era dono de seus atos.
 
Sirva este comentário para a defesa aferrada de uma tese, a de que aos idos em idade se lhes conceda o direito de ter suas manias, desde que não danosas a eles próprios ou a terceiros. Quem não alimenta, uma ou outra, até mesmo antes da idade provecta? Aquelas predileções de ordem eminentemente pessoal?
 
Chegam os filhos e as filhas e, sob pretexto de carinho e atenção, escolhem a poltrona, a cama, o que seja permitido comer, hora de sair ou de ir para o leito. Os programas de televisão, nem se diga. A preferência de todos na casa se antecipa à deles. E evidente que eles, vencidos e abatidos, se lhes falaram por falar, se é possível mudar de canal, os velhinhos assentem, fazem de conta que não ligam.
 
Um exemplo bisonho e conscientemente exagerado: Diga-se que o vovô gostava de ver televisão deitado no sofá, cabeça recostada num travesseiro. Fatalmente se lhe dirá que aquela posição o prejudica e até a coluna, que não anda bem.
- O senhor parece criança! E depois reclama de dores!
 
Por isso que, felizmente, cada vez mais evoluem os clubes da terceira idade, nos quais, aliás, nem seria de se apresentarem brincadeiras ingênuas em excesso, na esteira equivocada de que velhinhos se tornam crianças de novo.
 
Pode-se admitir uma situação de atenção diferenciada para com eles, em casos extremos. Até porque fatalmente a percepção cede lugar a desvios de conduta, por esquecimento, perda quase completa de memória, uma fase senil mais aguda. Aí sim precisam de acompanhamento que os ajude a se definir ou se comportar.
 
Esse estado de espírito ou de saúde mais precário, como se asseverou, a cada dia, pelo avanço da medicina e pela proliferação das academias, só acontece – quando acontece - agora bem mais tarde. Tanto é assim, que existem enfermidades que levam à morte sem que a lucidez abandone o paciente.
 
Ouviu-se de um desses conselheiros que atuam na mídia, que os pais não podem exigir que os filhos os amem, mas podem exigir respeito, mais que isso, têm direito a esse requisito.
 
Soa realmente muito estranha essa assertiva, apesar de que em parte é de se curvar a essa dura realidade, de que não se há de esperar necessariamente afeto de filhos para com os pais. Em tempos outros, não era assim. Os pais eram paparicados.
 
Está aí o cerne: eram outros tempos.
 
Quem, dos filhos, ao entrar ou sair de casa, ou ainda antes de se recolher ao leito, não ia atrás deles, lhes tomava da mão direita, beijada com veneração e em seguida sob uma saudação respeitosa:
 
- A bênção pai, a bênção mamãe!
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