Os meditabundos
Em 1974 comecei a viajar com mais frequência para São Paulo, ciceroneado pela boa amiga e discípula Helena Alonso, que a tudo coordenava com muito carinho para que me sentisse bem-vindo a essa megalópole. Costumava me levar para conhecer os instrutores de diferentes tipos de Yôga. Desafortunadamente, na maior parte das vezes, os que por sua profissão deveriam dar exemplos de educação e boas maneiras, reagiam com imaturidade e neurose.
Numa das incursões de boas vizinhanças, fomos visitar uma escola de raja “yóga". Fui apresentado à "professora" que, olhando-me desdenhosamente de cima a baixo, sentenciou:
Você faz "yóga" física, não é, meu filho?
Eu, com meus trinta anos e um corpo bem esculpido, denunciava uma inegável disciplina de técnicas físicas bastante eficientes o que, sem dúvida, aborrecera a gorducha "professora". Embora eu não praticasse só isso, já que no Swásthya Yôga desenvolvemos oito feixes de técnicas em cada sessão (e uma delas é a meditação), achei mais educado não ser impertinente, afinal estava na escola dela, ninguém havia me chamado lá e a gentil senhora aparentava ter muito mais idade. Entretanto, ela não esperou pela resposta e prosseguiu:
Pois nós, não! Não acreditamos em 'azânas'. Só fazemos me-di-ta-ção! disse ela, em tom de afetada superioridade.
A conversa seguiu seu curso com as amenidades espiritualistas de praxe, até que, em dado momento, a que nos apresentara lembrou-se de perguntar:
Fulana, como vai o seu reumatismo? E a sapiente "mestra" que desprezava as técnicas físicas porque só me-di-ta-va, confessou:
Tá mal, minha filha. Não consigo nem meditar...