Os Nanicos do Voto
Se as pesquisas eleitorais foram as grandes derrotadas no pleito deste ano, por provarem sua pura e simples inutilidade, por outro lado inúmeras figurinhas carimbadas da política nacional foram reduzidas a um estado de nanismo eleitoral. De gigantes da popularidade passaram à categoria de anões das urnas, apequenados em importância perante o eleitorado.
Quando falamos de nanicos do voto não estamos nos referindo ao Guilherme Boulos, por exemplo. Este nunca foi nada eleitoralmente. Notoriamente conhecido por ser um incentivador de invasões a propriedades privadas, liderando uma espécie genérica de MST da selva de pedra, trata-se de mais um socialista de iPhone. Com essa pecha de terrorista e explorador de pobres, pois seus agentes cobravam “aluguel” dos que habitavam imóveis invadidos por sua quadrilha, tinha a grande pretensão de ser um herdeiro de Lula, uma versão mais jovem e moderna do presidente preso por corrupção e lavagem de dinheiro. Nem isso Boulos conseguiu. Ficou com menos de 1% dos votos, 0,58% pra ser preciso, com pouco mais de 617 mil eleitores, abaixo de muitos eleitos à Câmara Federal.
Quando falamos de nanicos do voto, não estamos nos referindo também aos iniciantes e aos folclóricos de sempre, como é o caso de Jango Filho, Vera e Eymael que, somados, chegaram a 0,12% dos votos. A presença deles mal foi notada no processo eleitoral, mas todos certamente beneficiaram-se das licenças e recursos oferecidos pela legislação, principalmente em relação ao famigerado Fundo Eleitoral.
Quando falamos de nanicos do voto, não estamos nos dirigindo a Álvaro Dias ou a João Amôedo. Fazendo suas estréias na corrida presidencial, o primeiro tem seu reduto muito limitado ao Paraná e o segundo não teve apelo retórico, carisma ou fatos gerados que o deixassem na crista da onda ou na boca do povo. Dias conseguiu 0,80% dos votos e Amôedo 2,50%. E olha que tá bom demais.
Quando falamos de nanicos do voto, falamos de Henrique Meirelles e os cerca de 50 milhões de reais gastos do próprio bolso durante a campanha, para conseguir pífios 1,20% dos votos. Referimo-nos também a Marina Silva, a Dona Nanica das urnas (referência à personagem anã do humorístico “A Praça é Nossa”), que ficou os últimos três anos deitada em sua Rede, obteve humilhante 1%, recebeu apenas 2,6% de votos no Acre, seu Estado natal e ainda corre o risco de ter o seu partido eliminado de vez pela cláusula de barreira, já que não atingiu nem quantidade de votos e nem deputados eleitos para legitimar representatividade. Quando falamos de nanicos do voto, falamos principalmente de Geraldo Alckmin e seus 4,76%, uma vergonha para um político com sua biografia, realizações e envergadura.
Enquanto os nanicos das urnas consolam-se mutuamente, quem está feliz e teve desempenho de gigante foi o inédito e excêntrico Cabo Daciolo que conseguiu, não se sabe muito bem como, 1,26% dos votos. Seu marketing de campanha foi passar três semanas orando num “monte”. Seus gastos totais não chegaram a mil reais. E suas aparições em debates foram sempre comentadas pela histrionice, mas ao fim e ao cabo (com o perdão do trocadilho) teve uma avaliação simpática por parte do eleitorado.
Eleições são sempre perigosas por causa disso: um Davi pode agigantar-se diante de Golias e um Golias pode apequenar-se diante de um Davi. Daí, aos nanicos do voto só resta a opção de ir embora cantando “Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou”, já que os eleitores não querem mais saber deles.