Padre Bartolomeu Taddei
Hoje, 3 de junho, completam-se cem anos da morte do missionário jesuíta Padre Bartolomeu Taddei, uma das figuras mais expressivas do clero brasileiro na passagem do século XIX para o XX, cuja memória é pouco conhecida hoje, mesmo em Itu, onde viveu quase cinquenta anos.
Sua morte, após pequena enfermidade, causou imensa mobilização nos setores da Igreja Católica por todo o Brasil, acompanhada pela elite do clero brasileiro, tamanha sua influência sobre bispos e arcebispos desde que fundou, em 1871, o primeiro centro Apostolado da Oração no Brasil, na Igreja do Bom Jesus. Atuou como missionário de cidade em cidade, paróquia em paróquia, fundando centros de devoção ao Sagrado Coração de Jesus, com o objetivo de transformar o Catolicismo brasileiro, para que fosse mais ligado à Igreja de Roma e menos envolvido com as tradições coloniais, das antigas irmandades e confrarias.
O jesuíta nasceu em pequena cidade na região de Aquila, na Itália, em 7 de novembro de 1837. Depois de ordenado padre entrou para a Companhia de Jesus, com 25 anos e foi destinado ao Brasil, fazendo parte do grupo de quatro jesuítas fundadores do Colégio São Luiz. Recebeu a missão especial de divulgar a devoção ao Sagrado Coração.
Em quarenta anos criou centenas de centros do Apostolado da Oração, que mudaram a história da Igreja Católica no Brasil, especialmente no momento em que ela se tornava independente do governo imperial e o país se transformava em uma república laica. Foi o pioneiro da imprensa católica, fundando, em Itu, a revista Mensageiro do Coração de Jesus (1896) ainda hoje uma das publicações católicas mais lidas, que deu origem à editora Loyola. Foi também o mentor dos intelectuais que fundaram o jornal A Federação (1905).
Investiu grandes somatórias de dinheiro em reformas e decoração da Igreja do Bom Jesus e construiu dois santuários ao Sagrado Coração de Jesus, em Itu (1904) e Santos (1906), atitudes criticadas por setores liberais da política local, que consideravam os recursos mal aplicados em um país de tanta miserabilidade. Promoveu megacelebrações que envolveram grande número de fiéis, trazendo a Itu dezenas de bispos, arcebispos e até mesmo o primeiro cardeal da América Latina, em 1908, D. Joaquim Arcoverde. Padre Taddei foi a figura central da transformação de Itu em Roma Brasileira.
A vida de austera pobreza, no Bom Jesus, contrastava com a fama de grande pregador, mestre de oratória, aplaudido pelo povo e pelas elites, em templos sempre lotados por todo o país. Desenvolveu trabalho social, com seus irmãos de Ordem, no combate a epidemias, redução de pobreza através de obras de caridade, aproximando as elites econômicas de certos problemas de fome e miséria. Assim nasceram as Conferências Vicentinas e Associações de Damas de Caridade.
Deixou poucos escritos: relatórios e cartas que tive oportunidade de pesquisar em arquivos jesuítas.
Dele se escreveu bastante, trabalho dos jesuítas e de seus antigos alunos. Ao longo do século XX houve grandes celebrações em sua memória: em 1923 o traslado do seu corpo para o Santuário Nacional do Apostolado da Oração e inauguração do Salão Padre Taddei; em 1937, centenário de nascimento, a criação de ruas e memoriais em Itu, Santos e São Paulo; em 1987, sesquicentenário de nascimento, lançamento da campanha pela sua beatificação.
Há algum tempo ensaio uma biografia sobre o Padre Taddei, escrita com as preocupações que a História tem hoje, mas a vida de professor e a falta de recursos para impressão têm retardado. É uma figura que merece um novo olhar, para entendermos melhor a força do Catolicismo brasileiro.
Em 1913, quando da sua morte, o terço com que rezava cotidianamente foi dado pelo Padre Faini a um antepassado meu, grande amigo do Padre Taddei; é uma relíquia de família. Há mais de duas décadas, tenho sido seu fiel guardião!