Padre Bento e o Xis da Questão
Os católicos alegramo-nos deveras ao comemorar, neste 17 de setembro, os 200 anos do nascimento do ilustre Padre Bento Dias Pacheco, ituano da gema e grande exemplo de santidade. Missas e eventos foram celebrados em sua memória, se não em outras localidades mas com toda a propriedade na “Roma Brasileira”. A memória popular, tão ingrata com os heróis do passado, ao menos nas plagas ituanas certificou-se de recordar com orgulho os exemplos deixados pelo Apóstolo da Caridade.
Duas virtudes desse grande vulto são exaltadas por muitos com certa facilidade: o amor aos pobres e o cuidados aos enfermos marginalizados. De fato, Padre Bento soube viver como poucos aquela pobreza evangélica pregada por Cristo. Filho de família rica, soube repartir seus bens com os necessitados. Dono de escravos, soube libertá-los pois enxergava a todos como irmãos e não como “posses”. Um homem simples, de vida austera. Viveu praticamente toda a sua existência usando uma única e surrada batina, nada mais.
Os espíritas, que não são cristãos, pois segundo Kardec não acreditam que Jesus seja divino (portanto uma questão doutrinal e teológica) são grandes admiradores de Padre Bento que, se não os inspira o suficiente para que se convertam ao catolicismo, ao menos os inspira na prática da caridade. Não são poucos os não-católicos que, diante dos exemplos de vida desse grande homem colocam-se a serviço dos necessitados.
A compaixão de Padre Bento pelos enfermos marginalizados também causa admiração em muita gente. Ele provou todo o seu amor não com palavras, mas com gestos concretos, vivendo diuturnamente na companhia de leprosos por mais de quarenta anos. Cuidando desses enfermos, jamais foi contaminado pela terrível doença. E com eles esteve até o seu último suspiro. Sem dúvida é um grande exemplo para todos os que atuam na área da saúde, infelizmente tão desumanizada por alguns.
Por mais que se possa, e que se deva, admirar Padre Bento por tudo isso, é preciso ressaltar o verdadeiro xis da questão a seu respeito. Ele não praticava a caridade por algum interesse terreno ou para aliviar sua consciência. Foi um mestre da caridade porque era um sacerdote do Deus Altíssimo, vivendo com perfeição o mandamento divino de amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo até mais do que a si mesmo.
O xis da questão é que Padre Bento não viveu junto aos enfermos apenas para cuidar deles no que se refere aos sofrimentos do corpo, mas sobretudo para lhes sustentar a alma. Não ficava ao lado dos moribundos apenas para que morressem em paz, mas sobretudo para que entrassem corretamente na verdadeira vida, que é a eterna. Por mais que parecesse e que realizasse os trabalhos de um cuidador ou enfermeiro, duas das mais nobres e dignas profissões humanas, a sua profissão era a da Fé, a de ser um sacerdote e representante do próprio Cristo. Antes da cura do corpo, Padre Bento queria a cura da alma dos seus irmãos enfermos. E se lhes trocava os curativos, mais ainda lhes curava as feridas da alma.
Entre tantas comemorações e celebrações, em meio a tantas falas e opiniões, é necessário assinalar esse xis a respeito de Padre Bento: que não foi apenas um homem caridoso e bonzinho, não foi apenas um cidadão preocupado com o bem-estar e a dignidade humanas, mas que acima de tudo isso foi um baita de um senhor padre!
O primeiro e mais rico exemplo que Padre Bento deixa como legado é o do seu sacerdócio santo, vivido fielmente na prática da verdadeira caridade ensinada por Jesus de Nazaré. É preciso que seja também louvado e admirado por tal motivo. Caso contrário, reduziremos esse ituano a um mero benfeitor entre tantos outros. Sim, sim, sim, admitam ou não os não simpatizantes do catolicismo, ele entrou para a história como um padre santo! É exemplo para todo o clero!
Continuemos honrando essa grande figura e contando com a sua constante intercessão, para que juntos possamos aliviar as dores de tanta gente sofrida preparando-as também para a realidade celeste, onde já não haverá mais nem choro e nem lágrimas, mas somente a alegria eterna de estar na presença de Deus para todo o sempre.
Amém.