Paixões futebolísticas
Aqui no Brasil o futebol apaixona tanto, que se remontássemos à antiga Grécia e tivéssemos acesso ao Parthenon, certamente poderíamos instalar um altar ao deus BOLA e seus jogos, de modo especial o futebol.
Com o acentuado declínio ao culto do verdadeiro Deus, o povão cria ídolos em substituição, como o futebol que passa a ser encarado com verdadeira paixão e consequentemente, de saudável esporte, transmuda-se ora em violento confronto de torcedores, inclusive com a polícia, ora enseja atitudes antiesportivas más, inconcebíveis para espíritos cristãos.
Exemplifiquemos com dois jogos: Corinthians x Flamengo e Flamengo x Grêmio. No primeiro, já realizado, centenas ou milhares de corintianos estariam interessados na derrota do próprio time para não admitir a vantagem do S. Paulo, tido como rival a ser derrotado ou a não ser beneficiado com a vitória do “timão”.
No segundo jogo, ainda a ser realizado (quando estou escrevendo este artigo), acontece o mesmo raciocínio com semelhantes torcedores gremistas, que desejam que o Grêmio perca para não beneficiar o arquirrival, o Internacional. Essa a mini visão do que nos passam os meios desportivos midiáticos.
Nos bastidores, também o insólito vai acontecendo o que me serviu de inspiração para o tema proposto. Ilustre e renomado economista, apaixonado palmeirense e diretor, não se conformando com uma das últimas derrotas do seu time, extrapola em sua manifestações, culpando o juiz com epítetos não compatíveis com sua formação intelectual.
No auge do episódio, surgem outras manifestações inadequadas e antiesportivas de que participou, também mostradas e exibidas por jornais e televisão. Ainda procurando absorver esse capcioso noticiário esportivo, deparo-me com a crônica do consagrado Veríssimo no Caderno 2 do Estadão e Correio Popular de 3 de dezembro último, sob o título Para voltar a crer, do qual passo a transcrever a parte conclusiva: “Eu tinha desistido de esperar pela nossa regeneração.
Ela não viria pela religião, que se transformou em apenas outro ramo de negócio. Nem viria pela revolução, mesmo que se pagasse para o povo ocupar as barricadas. Eu achava que a espécie, não tinha jeito, não tinha volta, não tinha salvação.
Meu desencanto era total. Só o abandonaria diante de alguma prova irrefutável de altruísmo e caráter que redimisse a Humanidade. Uma prova de tal tamanho e tal significado que anularia meu ceticismo terminal e restauraria minha confiança no futuro. Esta prova virá neste domingo, se o Grêmio derrotar o Flamengo no Maracanã.
Se o Grêmio derrotar o Flamengo, O Internacional pode ser campeão. Mas o mais importante não é isso. Se o Grêmio derrotar o Flamengo mesmo sabendo as consequências e o possível benefício para o arquiadversário estará dando um exemplo inigualável de superioridade moral. A volta da minha fé na Humanidade não interessa, Grêmio. Pense no que dirá a História. Pense nas futuras gerações!”.
A que ponto levam as paixões futebolísticas! Parece até que o problema de Deus se esclarece e se sintetiza no magnífico resplendor do altar BOLA!
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