Publicado: Segunda-feira, 20 de novembro de 2006
Para aprender a amar realmente
Histórias sobre príncipes e princesas são muito boas, mas só nos contos-de-fada. Histórias do rapaz bonzinho que se casa com a moça sem defeitos também são ótimas, mas só em novelas. Cenas do casal perfeito que vive feliz para sempre nos emocionam, mas só podem existir nos romances da literatura ou do cinema. Não pensem os leitores que me tornei um amargurado, vítima de alguma desilusão. Ao contrário: acreditar no amor, em todas as suas formas de expressão, é condição vital para os que assumem a fé em Jesus, fonte de todo o amor que há no universo.
Contos e novelas, livros e filmes nos vendem uma visão errada do relacionamento amoroso entre homem e mulher. A fim de satisfazer a todos com uma história bonita, fazem um ótimo trabalho de maquiagem sobre a realidade, mantendo os aspectos positivos e excluindo os pontos negativos que qualquer relação amorosa tem. Assim como tudo nesta vida, é mais do que normal estarmos cientes de que um namoro, um noivado ou casamento têm seus pontos bons e seus pontos ruins, sendo que esses últimos precisam ser superados pelas duas partes que se unem em nome do amor.
A idealização do “felizes para sempre”, típica de todos os romances, faz com que homens e mulheres criem para si um modelo de “parceiro ideal” que na prática dificilmente se concretiza. Não estou dizendo que inexistem casais que se relacionam muitíssimo bem, num clima de amor e companheirismo que se estende por toda a relação e “até que a morte os separe”. Ao contrário, existem muitos casais assim e conheço vários. Porém todos poderão afirmar, caso sejam questionados, que qualquer relação tem seus altos e baixos, sendo preciso muito diálogo e perseverança para mantê-la.
Qual marido ou esposa estão isentos de defeitos? Qual namorado ou namorada que nunca falhou um com o outro? Qual casal ficou livre de conflitos e dúvidas, de verdadeiros momentos de provação familiar. Essa é a vida real, uma realidade muito distante das novelas e dramas cinematográficos. Assim sendo, o primeiro passo para que um relacionamento caia por terra é exigir que um seja o “príncipe encantado” e que outra seja a “parceira ideal”. Na hora de falar do relacionamento entre homem e mulher, a filosofia do mundo nos ensina a procurar pelo mais bonito e pela mais bonita, sem nunca nos ensinar a aceitar os defeitos que ambos possam ter.
Muitos relacionamentos morrem no começo porque a moça idealiza para si um príncipe montado num cavalo branco e porque o rapaz deseja uma “Amélia” para conviver. Baseado em tais pressupostos, não há relação que vá pra frente. À medida que os defeitos de um e outro surgem, quando os conflitos tornam-se inevitáveis, muitas vezes faltam paciência e diálogo suficientes para manter os dois corações unidos no mesmo caminho.
Há grandes lições a serem aprendidas para uma harmoniosa vida a dois. Ser exigente sem ser intolerante. Ser honesto sem causar mágoas. Saber perdoar sem ser condescendente. Saber corrigir sem humilhar. Conseguir amar o outro mesmo com seus defeitos e limitações, ajudando-o a superar suas falhas a cada dia. Tudo isso é companheirismo. Tudo isso é cumplicidade. Tudo isso acontece com o casal que está verdadeiramente unido em uma só carne e um só espírito, quando a dificuldade do esposo torna-se também da esposa e vice-versa.
Aprender a amar uma pessoa é como comprar uma casa mobiliada, em cuja cláusula contratual esteja proibido livrar-se dos móveis que não se deseja. Compra-se o “conjunto da obra” porque há uma certeza de que o investimento será compensatório. É incômodo perceber aos poucos que um ou outro móvel não agrada. Mas ele faz parte da casa e não pode ser jogado fora. Resta a alternativa da convivência com aquilo e da busca de alguma solução, que sempre existe.
Deus criou o homem e a mulher para que se relacionassem e não ficassem sós. É da vontade do Pai que sejam felizes. Mas ambos têm que andar pelo caminho certo, sem falsas “idealizações” que obedecem aos interesses dos romancistas, dos roteiristas de novela e da filosofia do mundo. Não é tão difícil, mas também não é fácil. Certamente que não é impossível. Trata-se de um maravilhoso desafio aos que pretendem viver e compartilhar o amor, na grande obra de construção de famílias sólidas e verdadeiras, das quais o nosso mundo tanto carece atualmente.
Amem. Amém.
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