Publicado: Sexta-feira, 12 de agosto de 2005
PATRIMONIO INDUSTRIAL DO INTERIOR PAULISTA
Texto publicado em: D.O E.; Poder Executivo, Seção I, São Paulo, 113 (18), 25.jan.2003-Suplemento-3.)
Edificações dos primeiros estabelecimentos fabris ainda podem ser observadas em cidades do interior de São Paulo, região pioneira no processo de industrialização do Estado. Entre elas está o prédio, tombado pelo CONDEPHAAT, da fábrica de tecidos denominada São Luiz, que se destacou no ano de sua inauguração, em 1869, pelas soluções construtivas e técnicas, que possibilitaram a estabilidade e sucesso do empreendimento e pela localização junto ao núcleo urbano. Utilizava-se da energia proveniente de uma máquina a vapor, sendo a chaminé ainda existente uma evidência deste uso, para o funcionamento das máquinas americanas, até serem substituídas pelas inglesas, manejadas por trabalhadores livres.
Fábricas instaladas na região elegeram localidades situadas junto a rios e cachoeiras viáveis a instalação do sistema hidráulico de energia e, visando a redução no custo de produção. Sendo assim, localidades como a de Salto (entre os anos de 1875 a 1889) e Porto Feliz (1878), junto ao rio Tietê; Capivari-Rafard (1881), junto ao rio Capivari; Piracicaba (1881), junto ao rio Piracicaba, entre outras, passaram a contar com a presença de fábricas de tecidos, papel e engenhos centrais de açúcar, constituindo núcleos de trabalho livre.
Materiais para a construção destes edifícios eram retirados das imediações das obras ou no próprio local. Fato que demonstra a integração com a paisagem e as adaptações de projetos, conceitualmente diverso, aos materiais adequados a construção. Assim, encontramos, nos edifícios remanescentes do período, a presença de rochas graníticas, utilizadas na confecção de paredes, pilares para sustentação de telhados, alicerces, revestimentos e barragens. Varvitos de Itu, encontrados nos pisos dos edifícios e alicerces. Quanto aos tijolos, quase sempre eram fabricados no próprio local da obra.
A continuidade e estabilidade desses empreendimentos foi dada pela intensificação, à partir da segunda metade do século XIX, de uma rede de sustentação constituída por casas importadoras de máquinas e equipamentos, oficinas de reparos e fabricação de peças de reposição, engenheiros e técnicos de países como Inglaterra, Estados Unidos e França e de empreiteiros (mestre pedreiro e oficiais) que, de forma itinerante, possibilitaram a construção dos edifícios, a montagem das máquinas e formação e treinamento dos operários.
O engenheiro mecânico, André Patureau, representante da Brissonneau Frères, de Nantes-França, um destes profissionais itinerantes, publicava anúncios em jornais ituanos e da capital oferecendo seus serviços de estudos (projeto) e aquisição (importação) de materiais necessários à instalação de fábricas de açúcar. Através dele montaram-se com máquinas francesas os Engenhos Centrais de açúcar de Piracicaba, Lorena e Porto Feliz, e com máquinas inglesas, o de Capivari.
Em Porto Feliz, André Patureau assumiu a direção técnica da produção e, desenvolveu uma atividade que se pode denominar de "espetáculo didático". Durante sua gestão, promovia, na época de entressafra, "visitas monitoradas" ao espaço da produção, para dar a conhecer as máquinas que transformavam a matéria-prima, no caso, a cana-de-açúcar, em açúcar. A curiosidade das pessoas em conhecer o processo de produção era notadamente um acontecimento social que se repetia em outros Engenhos Centrais como o de Henry Raffard, em Capivari.
Os projetos construtivos contaram também com a presença de profissionais itinerantes. Arthur D'Sterry, que veio ao Brasil através da importadora instalada na cidade do Rio de Janeiro Samuel Irmãos & Co., representante das máquinas têxteis inglesas da marca Platt Brothers, participou, entre os anos de 1875 e 1879, dos serviços de assentamento, montagem e treinamento de operários da fábrica de tecidos José Galvão em Salto. Em 1880 instala sua própria fábrica de tecidos, que não chegou a funcionar e, em 1890, elabora a planta e realiza o projeto de ampliação da fábrica de tecidos São Luiz, em Itu.
Assim, estruturas arquitetônicas que abrigaram o maquinário e o trabalho fabril constituíram campo para a difusão de um saber técnico, a formação da mão de obra e a criação de técnicas adequadas a realidade local. A presença de alguns destes testemunhos, que constitui parte do Patrimônio Industrial do Estado de São Paulo, alguns em condições precárias de conservação, motivam a traçar uma Rota de Observação desse processo de industrial.
Edificações dos primeiros estabelecimentos fabris ainda podem ser observadas em cidades do interior de São Paulo, região pioneira no processo de industrialização do Estado. Entre elas está o prédio, tombado pelo CONDEPHAAT, da fábrica de tecidos denominada São Luiz, que se destacou no ano de sua inauguração, em 1869, pelas soluções construtivas e técnicas, que possibilitaram a estabilidade e sucesso do empreendimento e pela localização junto ao núcleo urbano. Utilizava-se da energia proveniente de uma máquina a vapor, sendo a chaminé ainda existente uma evidência deste uso, para o funcionamento das máquinas americanas, até serem substituídas pelas inglesas, manejadas por trabalhadores livres.
Fábricas instaladas na região elegeram localidades situadas junto a rios e cachoeiras viáveis a instalação do sistema hidráulico de energia e, visando a redução no custo de produção. Sendo assim, localidades como a de Salto (entre os anos de 1875 a 1889) e Porto Feliz (1878), junto ao rio Tietê; Capivari-Rafard (1881), junto ao rio Capivari; Piracicaba (1881), junto ao rio Piracicaba, entre outras, passaram a contar com a presença de fábricas de tecidos, papel e engenhos centrais de açúcar, constituindo núcleos de trabalho livre.
Materiais para a construção destes edifícios eram retirados das imediações das obras ou no próprio local. Fato que demonstra a integração com a paisagem e as adaptações de projetos, conceitualmente diverso, aos materiais adequados a construção. Assim, encontramos, nos edifícios remanescentes do período, a presença de rochas graníticas, utilizadas na confecção de paredes, pilares para sustentação de telhados, alicerces, revestimentos e barragens. Varvitos de Itu, encontrados nos pisos dos edifícios e alicerces. Quanto aos tijolos, quase sempre eram fabricados no próprio local da obra.
A continuidade e estabilidade desses empreendimentos foi dada pela intensificação, à partir da segunda metade do século XIX, de uma rede de sustentação constituída por casas importadoras de máquinas e equipamentos, oficinas de reparos e fabricação de peças de reposição, engenheiros e técnicos de países como Inglaterra, Estados Unidos e França e de empreiteiros (mestre pedreiro e oficiais) que, de forma itinerante, possibilitaram a construção dos edifícios, a montagem das máquinas e formação e treinamento dos operários.
O engenheiro mecânico, André Patureau, representante da Brissonneau Frères, de Nantes-França, um destes profissionais itinerantes, publicava anúncios em jornais ituanos e da capital oferecendo seus serviços de estudos (projeto) e aquisição (importação) de materiais necessários à instalação de fábricas de açúcar. Através dele montaram-se com máquinas francesas os Engenhos Centrais de açúcar de Piracicaba, Lorena e Porto Feliz, e com máquinas inglesas, o de Capivari.
Em Porto Feliz, André Patureau assumiu a direção técnica da produção e, desenvolveu uma atividade que se pode denominar de "espetáculo didático". Durante sua gestão, promovia, na época de entressafra, "visitas monitoradas" ao espaço da produção, para dar a conhecer as máquinas que transformavam a matéria-prima, no caso, a cana-de-açúcar, em açúcar. A curiosidade das pessoas em conhecer o processo de produção era notadamente um acontecimento social que se repetia em outros Engenhos Centrais como o de Henry Raffard, em Capivari.
Os projetos construtivos contaram também com a presença de profissionais itinerantes. Arthur D'Sterry, que veio ao Brasil através da importadora instalada na cidade do Rio de Janeiro Samuel Irmãos & Co., representante das máquinas têxteis inglesas da marca Platt Brothers, participou, entre os anos de 1875 e 1879, dos serviços de assentamento, montagem e treinamento de operários da fábrica de tecidos José Galvão em Salto. Em 1880 instala sua própria fábrica de tecidos, que não chegou a funcionar e, em 1890, elabora a planta e realiza o projeto de ampliação da fábrica de tecidos São Luiz, em Itu.
Assim, estruturas arquitetônicas que abrigaram o maquinário e o trabalho fabril constituíram campo para a difusão de um saber técnico, a formação da mão de obra e a criação de técnicas adequadas a realidade local. A presença de alguns destes testemunhos, que constitui parte do Patrimônio Industrial do Estado de São Paulo, alguns em condições precárias de conservação, motivam a traçar uma Rota de Observação desse processo de industrial.
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