Paz e Vida!
“Felizes os que promovem a Paz.” (Campanha da Fraternidade de 2005)
“Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que Ele ama.” (Lucas 2,14)
"A Paz esteja com vocês!” Essa saudação foi repetida diversas vezes por Jesus ao se colocar no meio dos seus discípulos. Sabia Ele e sabemos nós quão valiosa é a Paz para nossas vidas. A tão necessária paz interior, aquela que sentimos quando nos examinamos e, igualmente, a exterior, aquela que produzimos em nossos relacionamentos.
A paz tem a ver com nossa razão, mas muito mais com nosso coração, nossa alma. Podemos dizer que é um estado de vida, ou ainda um modo especial e humano de encarar a vida. Não é algo que se ganhe ou que se possa comprar, que se encontre pronta ou mesmo que se nasça com ela, mas é algo que se constrói. Depende, portanto, de nosso querer, de nossa vontade e de nosso empenho. A Paz será sempre o resultado de nosso modo de viver, do nosso comportamento, das nossas atitudes.
É o resultado de uma harmonia; uma harmonia que leva a estar de bem com vida, ou seja, de bem consigo mesmo, com os outros, com a natureza e com Deus.
De bem consigo mesmo , conhecendo-se melhor, aceitando-se pacificamente, num contínuo esforço pelas correções e melhorias desejadas e necessárias. De bem com os outros , prezando e cuidando dos relacionamentos, desde os familiares até os profissionais, passando pelos convívios escolares, pelos colegas de trabalho ou das horas de lazer. De bem com a natureza , palco da vida, criado para nós, suficiente para a vida de todos, desde que haja respeito, carinho e cuidados. De bem com Deus , autor da vida, Senhor da Paz. Ele que nos quer seus amigos e companheiros, filhos e parceiros na luta por um mundo mais humano, mais justo, mais fraterno, mais feliz. Ele sabe - e nós também - que isto é possível, só não é fácil.
A paz começa em casa. A paz nasce no coração de cada pessoa e deve ser cultivada desde pequena no ambiente familiar, através da educação exercida por pais presentes e conscientes de sua grande missão. É claro que não queremos aqui desprezar o importante papel complementar das escolas, da catequese e dos meios de comunicação social, aos quais cabe, inclusive, o papel de apoiar a insubstituível tarefa da família.
Se, por um lado, sabemos quais as “ferramentas” necessárias na construção da paz, são muitas as situações, as armadilhas, as tentações que nos levam a “esquecer” que o ser humano é o único responsável tanto na construção como na destruição da paz. Nem precisaria aqui lembrar quanto mal podem fazer o egoísmo, o individualismo, o materialismo, cada dia mais comuns em nossa sociedade.
Como construir a paz pensando só em si, esquecendo-se dos outros, vendo-os como adversários ou até inimigos na disputa de direitos, num mundo de recursos mal distribuídos? Dificilmente a paz se aninha num ambiente onde a Lei do Amor, da solidariedade e da partilha está sendo substituída pela lei do “salve-se quem puder”, do “cada um por si”. Seria preciso ver o outro com olhos de respeito, de consideração e de caridade; seria preciso colocar-se no lugar do outro... Não dá para ter paz sozinho.
Como construir a paz se tenho com a natureza um relacionamento sem escrúpulo, de predador, se faço mau uso daquilo que é um bem comum? Seria preciso pensar que recebemos esse mundo de nossos antepassados e temos o compromisso de entregá-lo aos nossos sucessores. Em que condições isso se dará?
Como ser verdadeiros construtores de paz somente com o nosso lado humano, se não cuidamos da nossa dimensão espiritual, se rompemos nosso equilíbrio, nossa amizade com Deus; se somos orgulhosos e buscamos nossa auto-suficiência? Só em Deus encontramos a verdadeira paz e ainda as forças para vivê-la onde quer que estejamos, sejam quais forem as condições... Vai depender muito de onde e como nossa fé e esperança estão alicerçadas.
Se a paz e a tranqüilidade devem ser construídas, então dependem de nós e, é claro, podem igualmente ser atrapalhadas ou mesmo destruídas. Nossas atos, o modo de conduzir a vida, de administrar os relacionamentos, a definição de prioridades e de necessidades podem fazer a diferença entre sermos semeadores de paz ou de discórdia, de vivermos o céu aqui mesmo ou de estarmos já experimentando o inferno: medos, incertezas, insatisfações e angústias, modernamente chamados de “stresse”.
Rompida essa harmonia que sustenta a paz, resta-nos um convívio doloroso com a instabilidade emocional culminando com uma vida amarga e triste. Busquemos a paz, sustentada na alegria de viver, alegria que, mais que um desejo, é uma obrigação se valorizarmos corretamente a vida e o próprio mundo; se pensarmos que “tudo vale a pena se a alma não é pequena”; se valorizarmos grandemente a saúde de nossa alma e de nosso coração, criados para a alegria, para uma convivência feliz. Não fomos feitos para conviver com a tristeza e muito menos com a violência, capazes de desordenar nossa vida.
A presença da paz não significa ausência de conflitos. Estes existem e, devidamente administrados e resolvidos, não "tiram" a nossa paz. No entanto, vivemos “brigando” com a vida e acabamos perdendo a paz e pagando muito caro por isso. Não temos paciência nem conosco nem com os outros; vivemos “armados” e prevenidos contra tudo e contra todos. Vai-se nosso sossego, nosso bem estar, nossa possibilidade de ter paz, de ser feliz. É preciso repensar a vida! Vida criada em abundância e para ser muito boa, mas curta, e pode acontecer que passe sem ser percebida. Uma pena! Será muito triste descobrir que gastamos grande parte de nosso tempo tentando nos livrar das amarras e dos embrulhos por nós mesmos criados; será muito triste chegarmos ao fim com a descoberta de que “éramos felizes e não sabíamos...” ou, pelo menos, que "podíamos ter sido felizes e não o fomos...".
Acabamos num mundo de pessoas desencontradas e insatisfeitas.
As fraquezas humanas são grandes obstáculos no caminho para a paz; é preciso que as superemos, aproveitando as inúmeras oportunidades de revisões e correções de vida.
Aproveitemos o que São Paulo escreveu aos Romanos (12,17-18): "Não pagueis a ninguém o mal com o mal. Procurai o bem aos olhos de todos os homens. Se for possível e na medida em que depender de vós, vivei em paz com todos os homens. "
Finalizando, lembremos os conselhos de São Francisco para nossa conversão; são algumas das mudanças necessárias e possíveis em nossa vida: "Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz; onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia, que eu lev