Pequeno gigante
A campanha do Ituano no Campeonato Paulista de 2014 é digna de um filme épico. Desacreditado desde o início, o time foi vencendo e avançando e conquistando a confiança da torcida – que também aumentou no decorrer da competição, assim como o crédito do time treinado por Doriva. Tal qual a história de Davi contra Golias, o pequeno derrotou o gigante. E com isso, marcou de vez o nome na história do futebol.
Lembro até hoje do anúncio dos primeiros contratados. Ainda chateado com a frustrante eliminação na Copa Paulista, os nomes divulgados foram um balde de água fria. Ilustres desconhecidos e veteranos (como Cristian e Marcinho) comporiam o elenco que tinha como principal objetivo não cair para a Série A-2 – por mais que o discurso fosse de que a meta oficial era a classificação para o Campeonato Brasileiro da Série D.
Porém, esse sentimento mudaria a partir do momento que visse o time jogar. Já no primeiro jogo, contra a Portuguesa, no escaldante calor de janeiro às cinco da tarde, dava pra ver que o Galo não passaria tanto sufoco. Apesar de não ter saído com a vitória naquela tarde, o bom toque de bola, a zaga firme e o condicionamento físico impecável deixaram uma boa impressão ao torcedor.
O tempo foi passando e as vitórias foram aparecendo. O time brigava por uma vaga na próxima fase num grupo que tinha o gigante Corinthians, maior campeão do Paulistão. Veio então a comentada tarde de 16 de março. Jogando no Morumbi, o pequeno Ituano derruba, com uma pedrada só, lançada pelo também pequeno Esquerdinha, o São Paulo e o próprio “Timão”.
Timão mesmo foi o Ituano. Mesmo que não fizessem muito mais que avançar para às quartas de final, Vagner, Dick, Alemão, Anderson Salles, Dener, Josa, Paulinho, Jackson Caucaia, Cristian, Rafael Silva, Esquerdinha e companhia já entrariam para a história do clube – pelo menos por ser o único time dos últimos anos que a torcida ao menos memorizou e escalação. Mas eles queriam mais. E conseguiram.
Nas quartas, o Galo passa pelo Botafogo fora de casa. Ali a estrela da melhor defesa do Paulistão começava a brilhar mais forte – e a estrela de campeão acima do escudo começava a se desenhar. Pronto, a meta oficial (vaga na Série D) já havia sido conquistada. Mas por que parar por aí? Faltava a meta extra-oficial, aquela que todo pequeno quer, mas tem receio de admitir: ser campeão.
Nova fase, novo obstáculo: na semifinal, o gigante a ser batido seria o Palmeiras. Dono da segunda melhor campanha e jogando num Pacaembu lotado, o alviverde tinha tudo para levar a vaga. Mas não levou. Marcelinho, no diminutivo mesmo para reforçar ainda mais o título de time pequeno do Ituano, cala o Paulo Machado de Carvalho e toma a vaga do gigante verde e entrega nas mãos do time de Itu.
Pronto, o Ituano, que já havia extrapolado – e muito – a sua meta oficial, estava classificado para a grande final do Paulistão. E, assim como num jogo de videogame, a dificuldade foi aumentando a cada fase. Para levar o título para a “Terra dos Exageros”, o nada exagerado elenco do Galo precisava vencer time do Rei Pelé, o Santos, que há seis anos seguidos chega à final do torneio.
Melhor time do campeonato e dono do melhor ataque, o Santos tinha a aparentemente fácil missão de vencer o Ituano. Só parecia. Depois de um campeonato todo sendo chamado de pequeno, o Galo se agigantou. Jogou como time grande, soube se impor. Colocou o Peixe na roda no primeiro jogo e só não fechou o caixão por descuidos que todo time do inexperiente a disputar títulos comete.
No segundo jogo o panorama era o mais inacreditável possível - pelo menos pra quem nunca acreditou no Ituano. Quem tinha a vantagem era o time de Itu, não o todo poderoso Santos – que precisou garantir no apito uma sobrevida na disputa de pênaltis. Mas o título era do Galo, estava escrito nas estrelas. Estrela de Doriva, de Juninho Paulista, de Vagner e de todos os rubro-negros.
Quando Vagner defendeu a cobrança de Neto ele só estava ratificando o título do Ituano. A taça era do Galo, de ninguém mais! Vitória da “Família Ituano”, que foi construída de forma abrupta e terminou por ser um dos melhores elencos que o clube já teve e que a torcida já viu. Valeu, gigantes guerreiros!!!