Política agora
Normalmente não escrevo sobre política. Mas gosto dela porque sou um ser político, assim como todo ser humano o é, mesmo que não se dê conta de tal fato. Gosto dela também porque é um elemento fundamental para a história de qualquer nação. E ainda porque é uma ferramenta essencial para a construção da sociedade em geral.
Política: gosto de ler sobre, de estar a par do que acontece no mundo, no continente, no Brasil e na minha cidade. Gosto das histórias de bastidor e há tantas! Mas gosto principalmente de me manter distante de seus meandros, por dois simples motivos: incapacidade para atuar como político profissional e a grande satisfação de fazer meus comentários com a maior isenção possível.
Escrevei mais sobre política neste ano eleitoral. Mas não farei como outros colegas articulistas, que esperarão a coisa toda esquentar. Pretendo nem tocar no assunto entre os meses de agosto e outubro. Tudo porque, nessa época do ano, os políticos em geral ficam deveras sensíveis. Qualquer linha escrita vira uma celeuma. É um festival de carapuças sendo vestidas.
Deixa-me mais satisfeito e tranquilo comentar a política agora. Os políticos ainda estão ocupados demais em formar suas alianças e em iniciar o ano de trabalho. Eleições mesmo, só no segundo semestre. Ótimo, assim não me dão muita bola.
Não desejo exercer influência e nem conquistar votos para ninguém. Desejo apenas é pensar e partilhar o pensamento com leitores e leitoras, em favor do franco debate de ideias. Não é essa a pedra fundamental da democracia?
Estou decepcionado com a classe política, assim como a grande maioria dos brasileiros. Atualmente gastam mais tempo defendendo-se de escândalos do que trabalhando em favor do povo. Muitos prefeitos e governadores enfurnam-se em seus gabinetes, atendendo empresários e industriais, mas esquecendo-se do povão.
Em grande maioria, os vereadores brasileiros continuam com apenas uma sessão de Câmara por semana, muitas vezes em horários marcados justamente para que o povo trabalhador não possa nela comparecer. Seus altos salários são justificados de mil maneiras. Possuem dois ou três assessores e em alguns casos nem se sabe o porquê.
Deputados e senadores ficam mais tempo nos aeroportos do que legislando. Mesmo assim, são alvos constantes de denúncias de corrupção e outras modalidades. Passam o ano em meio a CPIs, atos secretos, três vezes por semana e com três meses de férias.
Os Ministros passam boa parte de seu tempo defendendo o Presidente da República das teorias da oposição. E agem como atores, tentando construir uma imagem boa o suficiente para concorrer a algum cargo no processo eleitoral seguinte. Os projetos do Ministério muitas vezes são empurrados com a barriga ou tocados por funcionários públicos de carreira, esses sim os verdadeiros motores da burocracia.
Urge a reforma política! E não vem de hoje tal necessidade. Eleições a cada cinco anos para todas as esferas: vereador, deputado estadual e federal, prefeito, governador, senador e presidente da República, com direito à reeleição. Chega de parar o país a cada dois anos, para ocupar políticos e eleitorado nesse enorme processo. Assim o interesse de um político não seria apenas conquistar o mandato seguinte.
O dever de realizar uma reforma política é dos próprios políticos. E é justamente por isso que ela nunca será feita. É como pedir à raposa que pare espontaneamente de comer as galinhas do galinheiro. Vai contra a natureza do gênero. A saída seria uma Assembléia Constituinte, com a realizada antes da promulgação da Constituição Federal de 1988.
Só que esta nova Assembleia deverá ser constituída por pessoas de renome no plano nacional, verdadeiros ícones em suas respectivas áreas de atuação. Talvez assim a classe pensante conseguiria sobrepor-se à classe política e finalmente tomar as medidas reformistas das quais nosso país tanto necessita.
A política continuará sendo interessante. Basta apenas que ela seja mais útil e mais justa para os brasileiros.