Preparativos do Concílio Vaticano I
Se, no século XVI, o Concílio de Trento teve como principal objetivo a contestação ao protestantismo, agora a intenção de Pio IX ao convocar o Vaticano I era combater diretamente o Racionalismo. Com a publicação do Sílabo, em 1864, e a proclamação do dogma da Imaculada Conceição de Maria, a idéia de um novo Concílio pôde ser visto como parte de um programa homogêneo objetivando a defesa da ordem sobrenatural defendida pela Igreja.
Como finalidade principal do Concílio declarava-se reunir todo o mundo católico numa poderosa manifestação da verdade, em contraposição aos erros do tempo, e adequar em numerosos pontos a disciplina eclesiástica às transformadas condições dos tempos.
O Concílio começou a ganhar contornos reais quando Pio IX instituiu, em março de 1865, a Congregação Diretora e Especial para os Negócios do Futuro Concílio Geral. Tratava-se de uma comissão formada por cardeais, determinante para a orientação dos trabalhos no futuro Concílio.
Já nessa fase houve novidades: o parecer dos príncipes católicos não foi solicitado antes da bula de convocação e os textos de estudo submetidos aos padres conciliares seriam elaborados em Roma.
Tais providências evidenciaram o distanciamento das relações entre Igreja e Estado no tocando às questões de fé. Além disso, a consulta a bispos e cardeais foi limitada, num clima quase que de sigilo.
A partir disso, algumas sugestões de tema já se destacavam para futura apreciação dos padres conciliares, como por exemplo: oferecer uma clara resposta aos erros do mundo contemporâneo já identificados na Quanta cura e no Sílabo; esclarecer a questão da soberania temporal do Papa e a sua independência; proclamar o primado de honra e de jurisdição do Pontífice Romano sobre toda a Igreja; adequar diversas normas canônicas às exigências da época.
Um dos principais assuntos em pauta seria a infalibilidade papal e o Sílabo foi proposto como texto-base dos trabalhos conciliares. Essas intenções de Pio IX não foram prontamente acolhidas pelos bispos consultados. Mesmo assim, a convocação para o Vaticano I foi anunciada em 26 de junho de 1867 e a partir de então as comissões preparatórias começaram a trabalhar.
Em 29 de junho de 1868 foi publicada a bula (carta) convocando oficialmente o Concílio para dezembro do ano seguinte. O documento recordava alguns pontos centrais da fé católica, especialmente a centralidade da obra redentora realizada através da Igreja. Além disso, enfatizava a necessidade de oferecer remédios para a cura dos males do mundo.
Outro detalhe importante para medir os novos parâmetros da relação entre Igreja e Estado é que os bispos, os abades e todos os que pudessem participar do Concílio foram convidados a participar efetivamente, enquanto aos governantes e chefes de Estado caberia somente o pedido de que cooperassem para o bom êxito dos trabalhos conciliares. Em outras palavras: a partir do Vaticano I os governantes não teriam mais qualquer influência direta nas decisões da Igreja.
Três meses após a convocação os bispos orientais não unidos a Roma foram convidados a voltar à unidade para participar do Concílio. A carta-convite, redigida em tons muitos duros, não encontrou resposta positiva. Ao contrário: publicada pelos jornais antes mesmo de ser recebida pelo patriarca de Constantinopla, acabou desdenhada. Alguns dias depois outro convite foi feito, desta vez aos protestantes e anglicanos, o que foi considerado um gesto de provocação pelos membros da Igreja na Alemanha. Em novembro de 1869 uma decisão do Santo Ofício acabou com a iniciativa de uma comissão especial de não-católicos no Concílio.
(Continua)