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Publicado: Sexta-feira, 11 de julho de 2008

Presença do Insólito

A ficção penetrou tão exageradamente em nossas vidas, que todas as histórias, desde as mais incomuns, tornaram-se desinteressantes para o homem atual. Daí o surgimento do insólito: aquilo que é extraordinário, que nos causa surpresa e espanto.
 
Desde a década de sessenta a tevê Globo criou o Fantástico, programa semanal de novidades e curiosidades, onde quadros insólitos sempre foram exibidos, caprichosamente ou não. As demais emissoras também sempre se esmeraram nessa busca do fantástico, competindo para apresentar o chamado “furo” de reportagem.
 
Desnecessário relembrar que, anteriormente à tevê, jornais, revistas e rádio, também sempre cuidaram com real interesse dos temas insólitos, especialmente os mais surpreendentes e escandalosos.
 
Essa cultura do insólito, evidentemente demonstra que as más inclinações do homem, ao invés de estarem sendo rejeitadas, são absorvidas e encaradas com mórbidas simpatias. E todo o mundo vai se acostumando com as notícias perversas, a ponto de se considerarem tediosos telejornais sem essas chamadas estrepitosas.
 
Assim, não é de se espantar, também, que o repórter redija uma das manchetes da primeira página de jornal de Campinas (13-6-08) de forma neutra e lastimosa (“Roubo a cervejaria deixa um morto), quando o deveria fazer com alegria e satisfação (“ Assaltante morre ao roubar cervejaria”).
 
De maneira que, a ficção que sempre existiu e integra uma das facetas do intelecto humano, no decorrer do século XX atingiu seu ponto culminante em decorrência da invenção do cinema e seu desenvolvimento, com as extraordinárias e fabulosas ramificações que passaram a superar a realidade ao máximo. Em outras palavras: a vida real, que nos diz respeito e traz inerente ao seu escopo aquilo que verdadeiramente interessa ao ser humano para se conseguir a felicidade integral, é dominada pela fantasia, sonhos e ilusões.
 
O trágico, porém, é o seu constante direcionamento para as coisas do mal, visando nos encantar e seduzir, ou seja, nos embevecer com esdrúxulas situações, inclusive anormais, perversas e pecaminosas.
 
Daí a mídia, que em gritante maioria, é dominada pelos materialistas ou agnósticos produzir a nociva programação, sobretudo ficcionista, com o incontestável predomínio do insólito. Nós outros, simples figurantes da universalidade, incapacitados para reagir, só temos a seguir a máxima traçada pelos “doutos” da modernidade: “desligue o aparelho”.
 
Consolam-nos, para terminar, todavia, que encontramos alhures mensagens impregnadas do “insólito construtivo” que tão bem faz para nossas almas, acalmando-as e tornando-as cristãmente resignadas: “eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores” (Cora Coralina). “Tem sempre presente que a pele se enruga, o cabelo se torna branco, que os dias se convertem em anos, mas o mais importante não muda! Tua força interior.” (Madre Teresa de Calcutá).
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