Preste atenção no seu dedinho
É engraçado como muitas vezes não fazemos ideia das ideias que podem surgir quando se cria um espaço para sentir. Tenho observado que esta percepção aguça na medida em que alimentamos os prazeres de nossa alma e quando reconhecemos que não surgem simplesmente do cérebro, mas numa espécie de sinapse espiritual, emocional, integral. Foi assim no passado nas sintonias dos grandes xamãs e é assim no presente com a abertura do coração de grandes seres humanos, humanos.
A grande magia natural está na atitude de permissão, de confiar que uma força superior esbanja vida, e vida é inspiração. Uma magia que seja simples, tão simples que beira o assombro. E que se possível chegue sem aviso, renovando a dança dos sentidos desde as menores sutilezas representadas no Universo até aqueles empurrões necessários para a saída das zonas enfadonhas do descrédito, desespero e perdição.
Já que estamos nos inspirando na magia natural e no sentir, vou contar o que aconteceu comigo há algum tempo. Estava caminhando por entre as árvores do parque do Ibirapuera, pouco depois de ministrar uma aula sobre educação na UMAPAZ – Universidade Livre do Meio Ambiente e Cultura de Paz. Foi quando senti, e depois avistei algo se mexendo por detrás das folhas de uma árvore. Se alguém visse meus movimentos iria pensar: “Xi, este aí está vendo coisas!” E de verdade estava vendo uma coisa que parecia uma mistura de árvore e ser humano em miniatura.
Me aproximei, agora sem dar bandeira de professor maluco, bem perto do galho onde aquele serzinho estava. E ele, pasmem, começou a falar e por favor não me perguntem como eu o entendia. Pois eu me sairia muito bem dizendo que ele falava a linguagem do amor, a linguagem da natureza ou neste caso a linguagem do humor.
A primeira coisa que ele falou foi: “Hei! Hei! O que faz andando tão rápido.” Eu iria responder que estava atrasado para um compromisso, mas este serzinho não me deu a chance e continuou falando. “Vamos lá! Chegou o tempo de descansar os pés.” “Mas que história é essa” – pensei. “Agora é o melhor momento de se inspirar, estão descanse os sapatos, eles não vão fugir e pelo estado em que se encontra não vão querer roubar. Então fique tranqüilo.”
Neste momento pensei: “Seu contar ninguém acredita!”. A situação era tão estranha e envolvente que até esqueci do meu compromisso e o horário, e fiz o que? Tirei os sapatos. Depois de algum tempo ali, parado, debaixo daquela árvore, o serzinho falou outra vez. “Vou ensinar uma prática para você se inspirar. Não precisa me responder, mas você tem cócegas nos pés? Bem, não era isso que ia falar. Ah, sim, olhe para os seus pés – você pode achá-los feio ou bonito, não importa. Veja se todos os dedos estão aí. Estão? Que bom! Quantos dedos você têm?”
“Agora olhe para o menor dos seus dedos, aquele que você chama de dedinho – se você tiver dois ou mais dedinho no seu pé escolha um, tudo bem? Este é o dedo semente. Imagine que seu corpo inteiro nasceu dele. Ele fica até mais bonito, não é? Agora converse com seu dedinho, ele tem uma inspiração para você.” – concluiu o serzinho.
E não é que o dedinho tinha mesmo uma inspiração. Faça um teste você mesmo, tire os sapatos e converse com o seu dedinho.
Mitakuye Oyasin!
“Por todas as nossas relações!”