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Publicado: Sábado, 22 de setembro de 2007

Primo Basílio, O Filme

Realmente, os tempos são outros. Os mais antigos são forçados a aceitar as inovações em nome da modernidade e do estupendo progresso. Não faltarão defensores do filme Primo Basílio, inclusive entendendo que nele há sadia moralidade. Não dá para polemizar, porque conceitos ortodoxos ficarão sempre na corda bamba.
 
Os que divergem de tais conceitos apresentam algumas verdades e amontoados de inverdades e mentiras. Adultério, glamourizado com tomadas “artísticas” de acentuado erotismo, centralizam a primeira parte do filme, que a seguir desenvolve o núcleo do roteiro com as chantagens de empregada que visualiza os encontros dos “enamorados” e furta suas cartas e bilhetes comprometedores.
 
A segunda parte, narrando a chantagem da empregada, passa a prender a atenção, introduzindo o aspecto maniqueísta, fazendo com que o espectador sinta o problema do bem e do mal. O filme reflete a moral, pois faz considerar que o bom procedimento da esposa evitaria todos os transtornos e dissabores que vai ter de suportar. Mas, vamos e venhamos: para insinuar as vantagens de vida decente, pleno das normas dos bons costumes, não haveria tanta necessidade de exibição do lânguido erotismo da primeira parte.
 
Como disse inicialmente, os tempos são outros e os conceitos de decência, pudor, moralidade etc. relativizaram tudo. Com essa maneira de pensar, teríamos de aceitar esse imoral Primo Basílio. Aliás, esse crápula, é o personagem que não sofre nada e que segue na rotina dos tempos, como Don Juan, a usufruir todos os prazeres, lícitos e ilícitos.
 
Não há como não deixar de criticar negativamente o filme, pois vivemos sob as normas da moralidade cristã. Dizer que foi criado sob o influxo anódino da arte, onde a representação dos artistas é que deve ser apreciada, não pode merecer o apoio das consciências bem formadas.
 
Considerar que a parte técnica (roteiro, fotografia, música) pode ser tida como muito boa, também não justifica o “nihil obstat” moral. O cenário retratando a época entre 1950 e 1960 é bastante razoável, exibindo prédios e palacetes, bem como automóveis e vestuários, como muita aproximação da realidade histórica. Diga-se, porém, que as locações são bastante curtas, a parte interpretativa dos artistas absorvendo o maior tempo das filmagens.
 
Qual a vantagem que advirá para quem assistir ao filme? Será que os ensinamentos morais decorrentes do mal ou castigo acontecido com a personagem adúltera, superam os demais negativismos? E o canalha do primo Basílio que não sofre qualquer transtorno, não representa mau exemplo, para a juventude, a maior freqüentadora dos cinemas?
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