Procura-se uma avó
Não sei como é para os que cresceram em grandes centros urbanos. Para nós, maiores de trinta anos, de infância bem brincada nas pacatas cidades interioranas, há muitas semelhanças e até coincidências nas imagens guardadas de nossas queridas avós. A primeira lembrança é, invariavelmente, a da respeitável senhora que, na postura de corpo e nos lentos movimentos, mostrava as marcas que o tempo imprime às pessoas. De fala mansa e pausada, nas muitas histórias contadas é que explicitava toda a sabedoria de vida, adquirida na melhor das universidades.
Conhecia muitos chás de ervas e remédios para todos os males, incluindo os do coração. Quando a medicina falhava, seus conhecimentos seculares, passados de geração em geração, indicavam como solução uma outra avó benzedeira. Como juiz nas discussões entre filhos e netos, era marcante sua imparcialidade; os netos sempre tinham razão. A cozinha era seu espaço preferido. Com mãos de rara habilidade e de múltiplos segredos, no fogão é que a avó colocava todo seu potencial. Dona de um infindável receituário, todo arquivado na memória, a magia dos sabores ela dominava com maestria ímpar. Façamos um exercício de imaginação. Tentemos lembrar dos pratos mais simples que nossas avós preparavam. Bife acebolado, por exemplo? Onde encontrar de novo aquele sabor? E os doces? E os pães caseiros?
Espécie em extinção, essas velhas senhoras têm, após a morte, lugar garantido no céu. Não há melhor local para abrigar tão doces criaturas. Imagine como deve ser lá em cima, com tantas avós cozinheiras. Todo dia deve ser domingo. No cardápio divino pode-se escolher macarronada, lasanha, torta de frango ou peru com farofa molhada. A sobremesa? Fios de ovos, quindim, doce de abóbora ou goiabada feita no tacho.
São Pedro deve ter passado uns maus momentos com a Dona Georgina, uma dessas queridas avós. Teimosinha como era, deve ter ficado dia e noite atrás do santo, até conseguir o alvará para o funcionamento de seu fogão à lenha. Com chuva ou sol, lá deve estar ela, com seus deliciosos pratos, fazendo o Nhô Quim pecar pela gula.
Aqueles que ainda têm, cuidem com muito carinho. Para concluir, um pequeno classificado: "Garoto bonito, um pouco mais de cinqüenta anos, professor, olhos verdes e nariz desenvolvido, procura avó que queira adotá-lo. Cartas para este jornal."