Profissão: bobô!
Jaqueline era uma executiva muito bem sucedida e bem remunerada, mas tinha um problema muito sério.
Separada do marido, com três filhos pequenos, tinha muita dificuldade para encontrar babá para os meninos, apesar do régio salário que pagava.
O bebê era muito manhoso e os maiorzinhos, traquinas.
Umas babás perdiam a paciência com eles e não ficavam no emprego. Outras ficavam, mas Jack acabava descobrindo que batiam nas crianças, negligenciavam com os cuidados, etc.
Era uma constante preocupação e um problema que se lhe afigurava sem solução.
Como já acontecera várias vezes a última babá se despedira há uma semana e ela já estava chegando às raias da loucura. Já pedira ajuda para a vizinha, a cunhada, a comadre...
Todo mundo já ajudara e se cansara e ela não sabia como ia continuar trabalhando se não encontrasse alguém, urgentemente.
E foi então que ele chegou à sua casa.
- Vim pelo anúncio do jornal. A senhora precisa de uma babá?
- Sim. É para sua irmã? Sua namorada?
- Não. É para mim mesmo.
- Você?! Quer um emprego de babá?
- Sim. O que há de estranho nisso? As mulheres invadiram o campo de trabalho dos homens. Acho que está na hora de nós revidarmos, invadindo o campo de trabalho delas, retrucou.
Jaqueline ficou intrigada. O rapaz falava bem, parecia ser culto... Seria uma brincadeira?
Ele, embora alegre, mostrava-se respeitoso. Não parecia estar debochando. E acabou contando a sua história.
Vinha de uma família muito pobre, estudara com muita dificuldade, mas conseguira formar-se: Psicólogo!
Só que perdera o emprego que tinha quando estudava e não conseguia encontrar trabalho.
Como sempre pensara em trabalhar com crianças e o salário era compensador, por que não aceitaria um emprego de babá?
- Mas, além de praticar seus conhecimentos de psicologia, vai ter que levá-los à escolinha e aos passeios, dar-lhes banho, preparar-lhes a comida, trocar as fraldas do bebê, dormir no quarto deles para atendê-los durante a noite...
E Jaqueline concluiu com uma ponta de ironia:
- Será que está disposto para tudo isso?
- Claro que sim! Sei perfeitamente quais as obrigações de uma babá. Ajudei a cuidar de meus irmãos mais novos. Estou acostumado a trocar fraldas e preparar mamadeiras.
Jaqueline hesitou um pouco, mas acabou raciocinando:
Por que não? Já tivera tantas experiências negativas com moças muito bem recomendadas, por que não fazer essa inusitada experiência?
Um babá-macho e ainda por cima psicólogo! Chique, não?
Enquanto mostrava-lhe a cama que ocuparia no quarto das crianças e o armário que podia usar, ainda estava meio apreensiva:
- Será que não estou fazendo uma loucura?
Quando chegou a casa, ao fim do primeiro dia de trabalho dele, deu umas horas de folga ao rapaz, conforme fora combinado e aproveitou para especular as crianças:
- E então? Como foi o dia com a babá-homem?
Luizinho, o mais velho foi logo dizendo:
-Ele é um barato! Fez uma mágica da hora! E disse que se eu for muito bonzinho, um dia ele me ensina a fazer uma porção de mágicas.
Carlito, o do meio, disse:
- Ele me ensinou a desenhar um pato! Veja!
O pato do Carlito parecia qualquer coisa menos um pato, mas, tudo bem, o importante é que gostaram dele.
- E o Nenê? Chorou muito?
- Um pouco. Depois ele o levou para ver os passarinhos lá fora e ele acabou dormindo.
- Que bom que vocês gostaram da nova babá!
- Só que ele disse que não é babá, é Bobó.
- Pois seja! Bobó! Contanto que faça o que tem que ser feito!
O Bobó estava se dando muito bem com as crianças, fazendo o serviço direitinho, mas Jack não estava tranquila. Não podia acreditar que um rapaz como ele ficasse muito tempo fazendo o serviço de babá. De repente ele arranjava um emprego e era uma vez um Bobó!
Mas ele foi ficando. Fazia toda sua obrigação e ainda achava tempo para pequenas gentilezas, levar o carro ao mecânico, fazer compras, lidar no jardim. Estava sempre disponível para fazer pequenos concertos ou procurar alguém para fazer. Era ao mesmo tempo um serviçal, um companheiro e um amigo.
Enquanto as crianças estavam na escolinha ele experimentava receitas na cozinha. Sempre, à tarde, tinha uma novidade para o lanche, um bolo, um sanduíche diferente, uma sopa caprichada.
As crianças adoravam e a Jack, muitas vezes, saia do regime para experimentar, também. Mas, como não há bem que sempre dure, o que Jaqueline sempre temera, um dia, aconteceu. O Bobô avisou que estava se despedindo.
O futuro sogro arranjara um emprego muito bom para ele. Naturalmente, não queria que a filha se casasse com um bobô.
- Que pena! Vamos sentir muito a sua falta! As crianças não vão se conformar!
- Dona Jaqueline, a senhora se esqueceu de que seu bebê já está com quinze anos? Ninguém aqui precisa mais de babá, muito menos de bobô!
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