Projeto de Leitura para crianças de 0 a 3 anos
Iniciativa de professora de Cabreúva está criando leitores do futuro
Por Jaqueline Rosa
Era uma vez, no reino não tão distante da cidade de Cabreúva, umaprofessora que, com brilho nos olhos e um punhado de dedicação e carinho, desenvolveu um projeto de leitura para crianças até 3 anos . O resultado: uma bela história pra se contar.
“Bruuuxa, bruuuxa, por favor, venha à minha festa? / Obrigaaada. Eu vou sim, mas só se você convidaaaar... / o gato!” E é assim que vai transcorrendo a historinha. E eis que bruxa, gato, espantalho, coruja e árvore; o duende, o dragão, o pirata e o tubarão... A cobra e o unicórnio e o fantasma, e o babuíno, e o lobo, e a Chapeuzinho Vermelho e as crianças foram todos convidados para a festa. E não só pela auxiliar de desenvolvimento infantil (ADI) Tatiane, que lia a história e mostrava as gravuras do livro, mas também pelas crianças do maternal II da EMEB Menino Cláudio Giannini, no bairro Jacaré, em Cabreúva, que tentavam – e às vezes conseguiam – entoar as palavras a cada novo convidado.
Eles são pequenos, tem entre um ano e meio e dois. Seus olhares atentos e suas reações sinceras, porém, provam que Shirlene de Moraes Vasconcellos estava certa ao apostar num projeto de leitura para crianças que, sim, ainda não sabem ler.
Shirlene é professora da rede municipal de ensino há 11 anos e sempre acreditou no poder transformador da leitura. E mais: acredita que os livros devem ser inseridos no dia a dia das crianças o mais cedo possível e de uma forma divertida, que faça com que os pequenos cresçam cientes do prazer e da alegria que eles podem encontrar no Cantinho da Leitura.
Tudo começou há sete anos, quando Shirlene trabalhava na EMEB Irva Ávila Pavani, no bairro Bananal, em parceria com a professora Marli Silva Lopes, que também contribuiu na elaboração do Projeto de Leitura Ler. Quando Shirlene veio lecionar, em 2008, na EMEB Nossa Senhora d’Aparecida, no Centro de Cabreúva, trouxe consigo a ideia. Ao ver os resultados positivos entre seus alunos, o projeto foi implantado na escola toda, com o apoio da diretora Mazelei Tarallo Domingues e de toda a equipe. “Não fazemos nada sozinhos, por melhor que seja a ideia”, diz Shirlene. E completa: “Eu agradeço muito a toda a equipe por acreditar no projeto.”
Atualmente, Shirlene é diretora da EMEB Menino Cláudio Giannini, no Jacaré. Lá, o projeto teve início em abril. Na primeira fase do projeto, durante a semana, as ADI’s contam histórias para as crianças. Na sexta-feira, os pequenos levam os livros para casa e os pais leem para eles. Ela conta que, entre os benefícios do projeto está o desenvolvimento da oratória e o estímulo à imaginação e criatividade das crianças e ao convívio entre pais e filhos.
A única dificuldade encontrada no projeto foi mesmo a falta de livros, pois, segundo Shirlene, devem ser livros especiais, num material diferenciado, próprio para a idade, o que os tornam caros. Em contrapartida, diversas escolas mantém suas bibliotecas impecáveis, mas longe das mãos curiosas das crianças. “Livro foi feito para ler. Muitas escolas têm bibliotecas grandes, com livros de qualidade, mas não os aproveitam”, comenta a professora. “Algumas escolas não deixam as crianças manusearem os livros, com medo de que eles estraguem”, completa.
São medidas como essa da professora Shirlene que, aos poucos, vão transformando o mundo. Projetos que, a princípio, parecem ser uma gota d'água no oceano. Mas que, com o tempo, se desenvolvem e alcançam, como esse, o coração dos envolvidos.
Shirlene deve servir de exemplo a todos: pais, professores e profissionais das mais diversas áreas, pois ela ensina – além do carinho com seu trabalho e o poder transformador da leitura – que quando se acredita em algo, devemos lutar por isso. Dando um passo de cada vez, voltando quando necessário. Avaliando e corrigindo os erros. Para, enfim, alcançar resultados positivos.
A moral da história veio clara, simples e direta, da própria: “É preciso acreditar mais!”