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Publicado: Segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Que produto!

Nada como pouco entender de informática.

Excelente oportunidade de a gente se socorrer dos netos. Dos cinco anos para a frente, daí mais ou menos, conte com eles para tirar dúvidas.

Quais avós não se comprazem de estar junto e perto dessas crianças maravilhosas com que Deus através de nossos filhos, nos presenteia.

Tudo é pretexto para se estar no meio deles.

Entretanto, com mais ou com menos idade, se você não se infiltra entre os usuários desta aparelhagem que aposentou máquinas de escrever e transferiu muito da comunicação postal para a virtual e minudências outras, está em certo aspecto fora do mundo.

Este cronista, em contato casual durante uma excursão, com um engenheiro eletrônico funcionário da Globo, confiou-lhe no entremeio de um bate papo da hora do almoço, que se sentia inferiorizado e com um nível de inteligência abaixo da média, de tanto ver crianças, jovens e muitos adultos também, desenvolverem todos os atributos e facilidades que o computador oferece, com a maior naturalidade.

Fora-lhe dito que, no exercício da advocacia, suas petições erigidas em máquina de escrever - uma Olivetti elétrica até ali considerada a sétima maravilha do mundo -
perdiam longe em termos de boa apresentação, no confronto com as dos colegas já informatizados, se assim se possa falar.

Decidido, foi a uma loja e solicitou a urgente configuração de um computador apropriado a atender principalmente redação de textos.

Uma vez em casa, sozinho, transformou-se em desbravador de áreas, programas, caminhos e consultas, mais complexas do que os sinais de
pista dos seus tempos de escoteiro.

Outra necessidade, igualmente imperiosa, o dever de remeter crônicas semanais à imprensa.

Hoje, a gente se safa razoavelmente, ao menos nessa área restrita, escrever. E olhe lá.

Mas, ao apresentar o lamento e confessar um complexo ao simpático engenheiro, ele desmentiu este seu interlocutor. Nada disso, dizia ele, de existir nisso tudo questão de quociente de inteligência.

Absolutamente.

Os de sua geração, explicou entao - e aí ficou evidente de uma vez que falava com alguém de idade provecta - pessoas pois de gerações anteriores ao advento do mundo virtual, recebiam lições de mestres que tudo lhes explicavam. Outrora, aduziu o prestativo engenheiro, ninguém aceitava usar ou trabalhar em algo que antes e detalhadamente lhe fosse ensinado e absolutamente compreendido. Até os anos noventa aproximadamente, só se aceitava aquilo que fosse pormenorizado em todo
o seu processamento. Urgia perpassar por todos os pontos, um a um, de toda futura empreitada. Saber-lhe os porquês minuciosamente e só se punha a trabalho ao sentir que dominava aquela matéria.

Em dias de agora, o garotinho de dois anos de idade, embora não saiba exatamente como fazer, vira-se de frente para o aparelho de televisão e aciona aleatoriamente os botões do controle remoto. Quem disse para essa criança que ela deveria não só usar o aparelho mas também e necessariamente virar-se bem de frente para o aparelho? Ele via os maiores fazerem e nem queria saber de como o milagre se operava. Interessava-lhe objetivamente a imagem e só.

É que tudo para a criançada moderna se torna intuitivo. Não se lhesdá o como e o porque de quando ao se dedilhar aqui e ali resultados milagrosos se operam de pronto.
Animem-se todos os amigos que jamais tiveram um teclado eletrônico à frente. Todos podem e são capazes. Mesmo que do interior de sua mente continue a surgir aquela dúvida do porquê e como os milagres surgem na tela, esqueça-os de vez.

Se você dedilha e o resultado surge, não pergunte nada.

Aceite como produto acabado.

E que produto! 

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