Publicado: Sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Quem dera Collor... Já se foram 15 anos!
Esperei o mês de outubro passar, propositalmente. Queria ver se alguém se lembraria, comentaria comigo. Mas nada. Assim, sou obrigado a desenvolver o tema aqui mesmo, antes que outubro se acabe.
Foi em 2 de outubro de 1992, portanto há 15 anos, que o então presidente Fernando Collor de Mello viu-se afastado do poder, pressionado pelos escândalos de corrupção que surgiram em torno de seu nome. Seria julgado posteriormente no Senado Federal, em 29 de dezembro, tendo seus direitos políticos cassados por oito anos.
Seu processo de impedimento (o famigerado impeachment) foi aprovado na Câmara dos Deputados em 29 de setembro de 1992, por 441 votos a 38. Sua cassação foi aprovada pelos senadores da República com um placar de 76 votos a 5. Os “caras-pintadas” estavam nas ruas, a mídia posicionava-se contra o “caçador de marajás” que se revelou uma fraude política. Enfim, a opinião pública era unânime no fato de que Collor devia ser expulso da vida política nacional.
Devo confessar que tais recordações não me vieram à mente do nada. Tempos atrás tive a oportunidade de fazer a leitura de “Mil Dias de Solidão: Collor bateu e levou”, do jornalista Cláudio Humberto Rosa e Silva. O autor é conceituado e parece ter autoridade no assunto. Acompanhou Collor desde sua campanha a governador de Alagoas, até chegar aos bastidores do Palácio do Planalto como porta-voz presidencial.
Cláudio Humberto revela trechos interessantes da vida política de Collor, seu jeito de agir e de pensar. Também aproveita para falar (bem ou mal) dos que se aproximaram do primeiro presidente civil eleito por voto popular, após o regime ditatorial. Ele não nega ser um admirador do ex-presidente e em vários trechos a obra parece ter o intuito de defender ou tomar as dores sobre as acusações feitas ao “caçador de marajás”. Porém, isso não tira o valor do livro, que em sua maior parte pode ser considerado um ótimo entretenimento.
Ao fim da leitura, justamente no dia 2 de outubro deste ano, fechei o livro e coloquei-me a pensar. Quinze anos se passaram... e o que mudou? O que está diferente de 1992, para Collor, para os políticos, para a política nacional? Infelizmente, pouca coisa.
Collor cumpriu seu período de afastamento, perdeu uma eleição para governador de Alagoas, porém elegeu-se no ano passado para um mandato de oito anos como Senador por aquele Estado, o segundo menor da Federação brasileira. Dos políticos que faziam parte do cenário nacional em 1992, muitos ainda persistem (para bem ou para mal) atuando: Sarney, Renan, Bornhausen, Paulo Otávio. E a política nacional? Precisa comentar?
Sim, precisa. Depois da “CPI do PC”, quantas mais se seguiram? Inúmeras. Quantas irregularidades verificadas e veemente negadas pelos políticos (ir)responsáveis? Inúmeras. Quantos escândalos e denúncias? Vários. Quantas cassações de mandato? Poucas. Quantos vexames engolidos pelos eleitores? Infinitos. Depois de Collor vimos um carrossel de palhaçadas políticas, dos “anões do Orçamento” às politicalhas de Severino.
Tudo bem, não precisamos ficar recordando as feridas em tom de pessimismo. Em 15 anos o país se modernizou e entrou na era da globalização. A democracia tornou-se uma realidade em termos gerais e as instituições que a formam também. Há muito a ser feito para que o regime democrático funcione plenamente para todos os brasileiros, assim como ainda falta muito para que as instituições evoluam e cumpram melhor suas funções.
O que não dá para calar são as perguntas que sempre nos assombram a mente, logo que vemos na mídia mais um caso de desvio de verbas ou caixa-dois. Onde está a reforma política? Por que não uma nova Assembléia Constituinte? Não é hora de discutir novamente o Brasil em termos políticos, livrando nosso sistema dos vícios e malandragens de meia dúzia (ou dúzia e meia) de malandros, que se aproveitam das brechas constitucionais, fiscais e jurídicas para depositar na Suíça enormes montanhas do meu, do seu, do nosso rico dinheirinho, tirado de nós na forma de taxas, impostos e encargos cada vez maiores?
Os teóricos dirão que tudo isso deveria ser corrigido através do voto nas eleições, livrando o sistema de políticos corruptos e fisiologistas. Porém, em 15 anos de democracia semi-plena, verificamos que isso ainda não funciona. O jeito é continuar insistindo, debatendo... e recordando.
Amém.
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