Quem se diverte senta no banco
Eu não canso de dizer e repetir o quanto tenho aprendido com as crianças. Todas. Qualquer idade, de qualquer lugar. Sempre. Ainda bem que deu tempo de eu desaprender para aprender. Ainda bem que a vida me permitiu sair do meu notório saber para perceber o tanto que não sei. Tenho conseguido, lentamente, desacostumar meus ouvidos de escutar no “modus automaticus”, e minha boca de responder palavras pré-fabricadas. Há que desassossegar as respostas seguras para dar sentido à vida. O colorido vem com as perguntas. É a curiosidade que não mata (e não o contrário!).
Então vou contar uma coisa que aprendi nessas minhas an-danças com as crianças.
Estávamos todos sentados em roda, após uma hora de Danças Circulares. Momento de fechamento, ansiosamente esperado, onde cada um compartilha sua experiência. A professora da classe falou: “Estou feliz!” E um garotinho de seis anos, sentado ao meu lado, sussurrou: “Ela vai ter que sentar no banco!”.
“Banco? Como assim?” – perguntei! Afinal, eu chego e saio como um beija-flor, e não participo dos códigos visíveis e invisíveis da instituição. Ah! Me explicou a professora: “É que temos um combinado de que quando alguém faz alguma coisa errada, tem que sentar no banco pra pensar no que fez.”
Olhei bem nos olhos daquele lindo menininho e perguntei: Ficar feliz está errado? Sim! Se divertir é errado? Sim! E todos concordaram com ele. Era quase óbvio! Eles pareciam me perguntar com os olhos como eu não sabia isso. Conversamos muito, mas não vem ao caso nesse momento. O que me intriga é.... Será que só este menino pensa assim? Só esta classe? Só esta escola? Só esta idade? Só esta professora?
Voltei para casa carregando esses pensamentos, mais pesados do que minha bolsa. Onde estamos pisando? Que terreno é esse em que ensinamos crianças de tenra idade que a alegria não cabe no aprender, que estudo tem que ter sacrifício, que diversão é bagunça, que é mais importante fazer a lição do que sorrir?
Observo sempre, cada dia mais. Vejo crianças de todas as idades, jeitos e condições econômicas e sociais aprendendo a se anestesiar. Cumprem tarefas sem emoção, correm para se livrar, fazem para esquecer, pensam para não pensar. A Felicidade está cada dia mais distante do cotidiano, pois não há tempo, interesse ou demanda. É preciso corresponder. É preciso responder.
Onde estão as perguntas? Onde está a vida? Deve estar por aí... sentada em algum banquinho...