Questão de veia
A periodicidade desta coluna – minudências eventuais colhidas ao léu da vida – é semanal.
Todavia, nestes dois últimos meses, essa pontualidade não tem sido assim tão fielmente observada. Algumas vezes, por entrar algum tempo um tanto atrasado, mas também para não perder a prática de que a cada sete dias assuntos se diferenciem, apenas por eventual exceção, um artigo fica um pouco além de sete dias aqui, como também pode entrar e dali a três ou quatro ser logo substituído.
Tudo isso – repita-se o propósito firme – de manutenção desse plano por compromisso, desde o jornalista para consigo mesmo - além da atenção devida aos leitores.
Coleciona-se, portanto, de longa data e sem exceção, um total médio de cinquenta crônicas anuais, por mais de meio século, na febril mania de cronista assíduo. Não raro se lhe faz ao autor, por terceiros, ressaltar a conveniência de compor os trabalhos em livros.
Neste ano de 2014, que vai depressa ao seu final, as inserções das crônicas fielmente semanais, têm sido inseridas exclusivamente neste site, o que enaltece sobremaneira qualquer tema aqui abordado.
Tem laborado o jornalista por mais de meio século em vários jornais da cidade.
Num deles, fizera-se marcante a coluna denominada “Última Página”. Descuidou este colunista de anotar anos a fio, por exemplo, quantos os ituanos e leitores que, nos encontros casuais, asseveravam o hábito de ler o jornal de trás para a frente, alocada que sempre estivera tal coluna ao pé da página final. Somente depois iam às demais matérias. Sem falsa modéstia, deverás animador e honroso testemunho esse, de tantos diletos amigos.
Por falar em jornais, entristece demais por sinal quando um semanário ou periódico de uma hora para outra se descaracteriza e os leitores mutuamente se lamentam de que nem tudo é como antes. Mesmo os grandes diários ao longo do tempo aclimatam-se aos costumes e às tendências. Mal maior, contudo, quando se distanciam de seus primados, a se permitirem acolhida sutil a sendas estranhas.
Por isso, sem favor nenhum, há que se repetir aqui um dito e aprendizado, colhido na fonte, de que todo bom jornal precisa antes de mais nada ter “alma”. Sabe-se de sobra o intento de um “Estadão” e da “Folha”.
“Alma”. Veia literária. Essa premência tem sido objeto de citação muitas vezes. Cerne de inspiração hoje, fora ontem e inequivocamente o será a qualquer novo ensejo. Tanto quanto a chance venha à baila. Sem cansaço. Obstinadamente.
Constata-se, com pesar, que eventualmente aconteça cá e lá essa anomalia de um órgão noticioso estiolar. Vai-se examinar e se constata que sua “alma” – o contexto desinteressado dos que nela mourejavam, se desfizera aos poucos. A folha, o jornal, o boletim, o tabloide, definham todos lenta e agonizantemente, sem o suporte estoico do instinto espontâneo e coletivo de colaboradores comprometidos com a causa.
A história, os fatos e a experiência o dizem.
Às vezes as redações se ressentem de material humano em que pululavam cabeças eminentes e sábias e até do confronto sadio dessas ideias o órgão se beneficiava. Sobravam pessoas essencialmente aptas, exímios condutores da pena, articulistas de escol.
Evita-se rememorar destaques locais para o que se constituiria em sadia e oportuna homenagem porque, de tantos e em especial os do passado, poderia alguém ficar desditosamente esquecido.
O renome de autor cujos textos os leitores sorvem com avidez, faz-se por si. Os leitores o consagram naturalmente.
Colunistas eventuais, igualmente bem vindos.
De todo modo, nunca se formata um jornalista exímio, eis que tal credencial lhe é inata.
Exímios, os assim nascidos.
Questão de veia.